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Os sons do silêncio

Agora Digo Eu

Na sequência do assassinato de John Kennedy, Paul Simon, apresentou em Fevereiro de 1964 “The sounds of silence”. Os sons que se transformaram em reflexão e que aos poucos chegaram a todo o mundo. Dos confins da terra e das profundezas do mar. Curioso ou não, todos refletimos, todos ouvimos os sons desse silêncio, que é só nosso.

José Sócrates voltou. Calculou o fim do silêncio. Garantiu não querer um lugar na vida política, mas tentou reconquistar o território perdido, mostrando-se hábil e preparado. Contestou a personagem eleita, por um quarto dos portugueses, o tal que ocupa a cadeira maior do palácio pink. Foi manipulador, puxou dos galões, vitimizou-se. Obrigou as forças políticas a tomar posição. Chegou, sabe-se lá como e porque pressões. Ao PSD dá algum jeito. Ao CDS nem por isso. A esquerda fica expectante, enquanto que os conspiradores da 5ª fila da bancada rosa, (Pereiras, Figueiredos, Lelos e Cª), autênticos seguidores da escola cínica, socráticos menores, quais Antístenes, esfregam as mãos de contente. A direção do PS previne-se e sabendo do regresso do ex-líder, discute hoje mesmo a celebre moção de censura. Sócrates inspira ódios e paixões. Não perdeu habilidade argumentativa nem a providencial capacidade oratória. O País inteiro parou para o ver e ouvir, percebendo-se que o pior que pode acontecer ao (des)governo e ao PS é o antigo 1ª ministro sentir-se como peixe dentro de água, pois semana após semana, opina e fala aos portugueses. A partir de agora todas as leituras, quanto à sua ambição, são todas possíveis e imagináveis. Quanto ao regresso e timing escolhido, é mais que evidente que Sócrates não tinha ainda o tempo de nojo previsto na lei que o obrigava a uma travessia maior no deserto político, a fim de ganhar estatuto moral e autoridade, obrigando-se, quem o convidou, a confirmar as suas verdades, denunciando as inverdades e, silencia-lo, neste preciso momento, teria um efeito negativo, pois neste cantinho onde reina a mediocridade destes protagonistas, é por demais evidente que a “Lei das Rolhas” não faz qualquer sentido e, nem mesmo no longínquo 1850 quando o nosso conterrâneo, fornense de nascença, Costa Cabral, apresentou a dita cuja, foi imediatamente contestada por Lopes de Mendonça, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, retirando-a quase de seguida.

E por cá? Se nesta vetusta e altaneira terra o PS soube lamber as feridas, o PSD continua à espera do seu Peter Sellers, qual Mister Chance envolto em autêntico nevoeiro ultra cerrado, fazendo lembrar aquela história do Centurião-Chefe, que ao olhar para o povo conquistado, segreda ao ouvido de Júlio César “Oh estranho povo este, lusitano, que nem se governa, nem se deixa governar”.

Que o PSD tem vocação de poder, disso ninguém duvida. Mas será que tem ambição?

Por: Albino Bárbara

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