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Os ricos que também paguem um pouco da crise

Os mais pobres dos mais pobres já pagaram. Com os cortes nos apoios sociais, o aumento do IVA e o aumento dos transportes, da eletricidade e do gás. Os pobres um pouco menos pobres já pagaram. Com o tudo o que já referi e o imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal, recebam ou não recebam subsídio de Natal. A classe média já pagou. Com tudo o que já referi e o aumento do IMI, dos juros e dos spreads. A classe média alta já pagou. Com tudo o que já referi e a criação de um novo escalão de IRS.

Umas medidas são justas, outras injustas, mas a verdade é que tocou a todos. A todos? Não, a quase todos. Quando se decidiu criar o tal imposto extraordinário deixou-se de fora a distribuição de dividendos. Agora, que se fala da criação de um imposto “para ricos” pensa-se deixar de fora o património, taxando apenas o rendimento do trabalho. Ora, a taxação sobre os rendimentos do trabalho apanha apenas os quadros superiores e os profissionais liberais. Deixar de fora o património no “imposto para os ricos”, como deixar de fora a distribuição de dividendos no imposto de Natal, é isentar apenas uma pequeníssima parte dos portugueses do sacrifício geral: os que são realmente ricos, que pouco declaram em sede de IRS. E mesmo que haja imposto sobre o património, ele deve ter um teto razoável, para serem apenas os que têm ficado a salvo dos sacrifícios a pagar.

Não se trata de roubar ninguém. Não se trata sequer de dizer que devem ser os ricos a pagar a crise. Trata-se de repetir o que disse Warren Buffet, um dos homens mais ricos do mundo: parem de mimar os ricos. Mesmo sabendo que Américo Amorim é apenas, nas suas palavras, “um trabalhador”. Já nem se trata de distribuir os sacrifícios conforme as possibilidades de cada um. É apenas não deixar de fora os únicos a quem a crise não toca. Já nem se pode falar de justiça. Apenas de vergonha na cara. Não é nada contra os ricos. É apenas para abrandar um pouco o saque geral a todos os outros. Ficam zangados? O resto dos portugueses também têm ficado. Sobretudo por saber que trabalhar e receber por isso parece ser o único pecado que não se perdoa neste País.

Por: Daniel Oliveira

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