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Os Quistos Políticos

Coisas…

Define-se como “quisto político” aquele indivíduo (ou indivídua) que, agarrado a um lugar do funcionalismo público para o qual foi nomeado em virtude da sua cor política, militância partidária ou jeito para o frete, só o abandona através de extirpação habitualmente acompanhada de mais ou menos choruda indemnização. Definida a coisa, vamos ao que interessa.

Uma das primeiras tarefas do novo governo socialista vai ser depuração dos cargos na função pública habitualmente ocupada pelos “quistos”. Este ritual repete-se sempre que há eleições e muda a cor do governo; afinal, a militância e a rouquidão no final de cada campanha eleitoral têm que ser pagas. No entanto, à semelhança de muitos outros fenómenos surrealistas e quase paranormais que ocorreram neste pobre país nos últimos 3 anos, também a este nível o despudor bateu recordes e a onda de nomeações por mérito na colagem de cartazes tornou-se quase a imagem de marca de um governo que agora não teve nas urnas mais do que mereceu.

A desparasitação, no entanto, promete ser dolorosa (e onerosa). Se é certo que, em determinadas circunstâncias, a competência e o mérito devem ser premiados e o país só tem a ganhar com a manutenção de certas pessoas nos seus lugares, outros casos há em que a demissão e a substituição são tão necessárias quanto óbvias e tão óbvias quanto difíceis: é precisamente o caso dos “quistos”.

Se recuarmos uns anos e não tivermos a memória curta, conseguimos recordar a atitude digna, intuitiva e lógica dos elementos do Conselho de Administração do hospital de Sousa Martins de então que, no dia seguinte à derrota do PS nas legislativas, colocaram o seu lugar à disposição. Chama-se a isto coerência. Dos que vieram a seguir talvez não valha a pena guardar recordações, mas isso são contas de outro rosário.

Derrotado agora o PPD, derrotadas teses fundamentais de gestão hospitalar, derrotado o projecto para um novo hospital de raiz na Guarda, não se compreende que o caminho lógico e coerente destas pessoas que lá têm estado seja outro que não o da rua, em direcção aos seus anteriores empregos.

Mas, perguntar-se-á: “Então e as indemnizações? O bago? O carcanhol?” E é aqui que a porca vai torcer o rabo uma vez que a lógica grita a plenos pulmões: “Se eu não me armar em quisto, não vejo o pilim!”

Resta-nos a nós, simples mortais, esperar para ver se o que se vai passar no hospital de Sousa Martins nos próximos tempos é um abandono mudo e mole de pessoas derrotadas pelos votos e pelos factos, ou se, por outro lado, teremos de assistir a uma extirpação de “quistos políticos” bem indemnizados, com dinheiro nosso e que continuarão a rir-se à nossa custa, pelo menos enquanto durar o cacau.

PS: segundo consta nos bastidores, nos casos do enfermeiro director e do director clínico, o problema nem se põe, pois parece que os homens estão há um ano à espera de uma recondução que nunca veio. São portanto virtuais e, como se sabe, os quistos virtuais não se extirpam. Basta passar uma esponja.

Por: António Matos Godinho

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