A semana passada comemoraram-se cinquenta anos do princípio do fim de uma fantochada salazarenta de um eufemismo chamado “Império Colonial Português”.
A três de Fevereiro de 1961 o paquete “Santa Maria” aportou no Recife, depois de Henrique Galvão e alguns companheiros terem tomado conta do navio durante alguns dias algures no Atlântico, num propósito de denuncia ao mundo o que era o Portugal da ditadura.
No dia seguinte, um grupo de revoltosos atacou as cadeias de Luanda de forma a libertar os prisioneiros julgados em tribunais plenários, na sua maioria por delito de opinião e que estavam à espera de ser embarcados para o Tarrafal, no arquipélago de Cabo Verde, o tal estabelecimento penal que segundo alguns biltres dizem que “nem era tão mau assim”. Nesse 4 de Fevereiro de 1961 iniciou-se a guerra colonial, móbil do estertor do Estado Novo, que tenta ser branqueado no quotidiano de vida dos cidadãos.
Muitos se esquecem que adultos no dealbar dos vinte anos de idade estavam com uma arma na mão a caminho de uma África que nada tinha a ver com o misto de bucolismo e colorido que a propaganda do regime tentava mostrar.
Acho que tem tudo a ver quando um capitão de Abril, homem sério, empenhado, que arriscou toda a sua carreira para acabar com a guerra colonial e a ditadura, Vítor Alves morreu no início do ano, e tem direito a pouco mais que um breve minuto nos quase escaninhos de jornais nacionais das TV’s que disputam entre elas quem mais demora.
Ao mesmo tempo esses mesmos jornais estão meia hora a falar de um assassinato perpetrado por um jovem que usava métodos sórdidos para obter favores no mundo da moda através de um valdeiro que usava toda a jactância para se insinuar num tipo de imprensa niilista, para usar alguma comiseração no léxico.
Conheci o major Victor Alves em 10 de Junho de 1977 na Guarda, onde me foi apresentado pelo Batista Bastos, ao tempo a trabalhar para o “Diário Popular”, na altura comissário do “Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas”, versão melhorada do 25 de Abril do “Dia da Raça” da má memória do tempo do “manholas”. Conheci uma pessoa simples, que quase pedia desculpa a Jorge de Sena por parabeniza-lo no seu famoso discurso. Um homem culto, educado, discreto que morreu e deixa saudade. Melhor que muito troglodita que por aí anda ufano porque tem uns poderzinhos conseguidos à conta de podrezinhos de uma democracia que tarda em melhorar-se.
Em jeito de despedida peço à autarquia da Guarda que faça uma edição com todos os discursos que marcaram esse 10 de Junho de 1977. Desde que coloquem lá o do Jorge de Sena garantidamente nem me importo de ter lá os discursos dos outros que deram seca, e quem lá esteve sabe de quem falo.
Já agora, o título é uma parte desse magnífico discurso de Jorge de Sena, o único que fez em Portugal!
Por: Fernando Pereira