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Os ódios dele

Corta!

O ódio continua a ser o personagem principal dos filmes de Spike Lee. Ódio antigos, que Lee vai conseguindo acalmar com os seus trabalhos. Sempre assim foi, desde Do The Right Thing, passando por muitos outros como Clockers, e terminando agora em She Hate Me – Ela Odeia-me. Os alvos, esses, é que vão mudando. A raça e as minorias deixaram de estar no seu centro das atenções. Tudo mudou quando Spike Lee descobriu que os problemas não aconteciam apenas aos seus. Tal como Scorsese ou Woody Allen, Lee faz com estes um triângulo dos mais nova-iorquinos realizadores de cinema. E quando o seu coração foi ferido, a 11 de Setembro, de um ano que parece ter sido ontem, tudo se alterou. O magnífico 25th Hour – A Última Hora bem o demonstrou, naquele que continua a ser o mais fabuloso filme onde as Torres Gémeas marcam tão forte presença (mesmo que aqui essa presença só surja através de uma ausência gritante).

Depois da estreia de dois filmes seus tão bons (Summer of Sam e o já referido Última Hora, ainda que pelo meio algumas coisas suas não tenham direito a estreia em Portugal), a estreia de Ela Odeia-me trazia consigo alguma curiosidade. Num ano tão fraco, poderia Lee oferecer uma pérola a 2005? Afinal, muito longe disso. Spike Lee parece desta vez ter-se espalhado ao comprido. Trapalhão e até algo confuso, saltando de estilo várias vezes ao longo das suas mais de duas horas de duração, Ela Odeia-me quer ser tudo e não chega nunca a ser nada. Começa por ser um filme onde as farpas são lançadas a companhias e fraudes como as da Enron, para mais tarde se transformar numa comédia sem graça, onde um homem, para ganhar alguns trocos, começa por engravidar lésbicas. A tentativa de Lee poderá ter sido mostrar uma nova forma de organização familiar. Talvez o tenha sido. Mas o que fica, no final, é mesmo só um ligeiro perfume dessa tentativa. Mais um filme tipicamente 2005: entre a desilusão e o muito fraco.

IMAGO (primeiros e últimos dias)

Lançado aqui o repto na última semana, foi agradável de ver as enchentes no primeiro dia do Imago, Festival de Cinema Jovem ainda a decorrer (até Sábado) no Fundão. Com uma Cerimónia de Abertura, a pecar apenas por algum desequilíbrio, a oscilar entre a mais fraca curta-metragem de Terry Gilliam, e o excelente momento de união entre imagem e som, com os Canal 0 e a curta Walking, o melhor mesmo nesta noite inicial estava marcado para mais tarde, no Casino Fundanense, onde Erlend Oye, a metade mais visível do duo Kings Of Convinience mostrou como apenas com uma guitarra acústica se consegue animar uma plateia. Um daqueles concertos para mais tarde recordar.

Até Sábado, oportunidade para ver ainda as curtas da Competição Internacional, os documentários a concurso e muito mais, a acontecer entre o Pavilhão Multiusos e a nova Biblioteca Municipal. O destaque, esse, vai para Kid Koala, com um espectáculo que promete bastante, agendado para a despedida daquele que é o maior acontecimento cultural no Interior do país.

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