Arquivo

Os “odiados”

Opinião – Ovo de Colombo

Com a cerimónia dos Óscares quase à porta, os cinéfilos aproveitam as últimas semanas para “gastar” as brincadeiras Leonardo-sem-Óscar e para se queixarem daquelas que consideram as maiores injustiças. E se, ao que tudo indica, a história de Leonardo DiCaprio vai ter – finalmente – um final feliz, a verdade é que este ano se arrisca a ser lembrado pelos piores motivos, nomeadamente pelos nomeados “so white”, onde Idris Elba, que venceu o SAG Award de Melhor Ator Secundário por “Beasts of No Nation” (2015), é uma das ausências mais evidentes.

Por sua vez, há também muito a dizer sobre os filmes à margem da estatueta. Com oito nomeados, entre os quais um “The Revenant” (2015) bem destacado, é usual o comentário de que havia espaço para mais dois, numa referência aos habituais 10 nomeados dos últimos anos. “Carol” (2015), que tem as duas protagonistas em evidência, conta com seis indicações, mas a ausência da lista de Melhor Filme, a par da de Melhor Realizador, é, na minha opinião, uma das mais claras. Desculpa-se a segunda, uma vez que a categoria de realização, ao contrário do ano passado, integra cinco nomeados de luxo, sendo difícil dizer qual “sairia” para dar lugar a Todd Haynes.

O argumento, esse, soma uma nomeação mais do que merecida. Uma história de amor inesperada, num passado discriminatório e que vive das aparências, é uma lufada de ar fresco nos filmes do género. Ainda assim, as interpretações soberbas de Cate Blanchett e Rooney Mara não foram suficientes para convencer a Academia a colocar o filme na elite do ano.

Por seu lado, “Os Oito Odiados” (2015), o oitavo filme de Quentin Tarantino (na foto), conseguiu três nomeações, com destaque para a presença de Jennifer Jason Leigh na categoria de Melhor Atriz Secundária e de Ennio Morricone na banda sonora, a primeira que faz para um western em 40 anos. De novo com o seu jeito muito peculiar – e violento –, Tarantino volta a abordar a questão racial, mais uma vez num mundo sem heróis nem vilões. Ganhando nos diálogos e na realização, das melhores que já fez, o anunciado antepenúltimo filme do cineasta (será que se confirma?) não foi o suficiente para o colocar na corrida; o que se justificaria, pelo menos, a nível de argumento. Por sua vez, também não se confirmou o hat-trick na categoria de melhor filme [tinha conseguido nomeações com “Django Libertado” (2012) e “Sacanas Sem Lei” (2009)].

Sara Quelhas*

*Mestre em Estudos Fílmicos e da Imagem pela Universidade de Coimbra

Sobre o autor

Leave a Reply