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Os novos desafios dos sobredotados da Guarda

Êxito da equipa de robótica tem contribuído para integrar jovens e esbater rótulo pejorativo

O pólo da Guarda da Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas (APCS) está entre “a espada e a parede” desde que a sua equipa regressou do Festival Mundial de Robótica, disputado em Junho na Alemanha. A coordenadora Goretti Caldeira confessa que o núcleo tem agora um «grande problema» pela frente, que é o de dar continuidade a um projecto que começou por ser uma actividade de enriquecimento e de equilíbrio social para seis dos seus associados.

«Eles cumpriram demais, porque a intenção não era seguir na competição», admite, ainda incrédula com o desempenho da equipa formada por jovens com idades dos 9 aos 18 anos, todos autodidactas neste desafio. Depois do Nacional de Robótica de Guimarães, onde alcançaram o primeiro lugar no futebol e o segundo na dança, e do Mundial de Bremen, o pólo vê-se agora na contingência de ter que preparar a participação na Liga Lego – que consiste na construção de robôs a partir de peças Lego –, a disputar em Março, em Santarém, e, sobretudo, no Mundial de Atlanta, também no próximo ano. «Já não podemos voltar atrás, pois eles extravasaram todas as expectativas, as nossas e as deles», reconhece a responsável, confrontando-se com a falta de recursos financeiros para levar avante esta aventura. Actualmente o pólo da Guarda conta com um apoio da Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas, para além das quotas dos associados e das receitas proporcionadas por acções de formação e venda de livros sobre o tema. «Também não temos sede, apenas um endereço postal», aponta Goretti Caldeira. O que não tem impedido que sejam procurados pelos pais de sobredotados da região.

Na Guarda há sete associados, mais um potencial – de cinco anos – oriundo da Covilhã. «A sociedade ainda vê este assunto de uma forma pejorativa, a tal ponto que alguns pais têm receio de admitir ou dizer que os seus filhos são sobredotados», refere a coordenadora. Uma barreira que o êxito alcançado pela equipa da robótica poderia ajudar a ultrapassar. É que neste desafio eles descobriram que há mais como eles: «Muitos são considerados anti-sociais, quando na realidade são crianças como as outras, que gostam de ver televisão, jogar futebol e, às vezes, não fazer nada. A única diferença é que são mais curiosos por natureza», explica Nabais Caldeira, pai de um deles. Uma integração social que o pólo guardense tem vindo a concretizar com diversas actividades, uma das quais, intitulada “Amigos do Peito”, consiste em levar para algumas iniciativas (modelagem, pintura, jogos, etc) a pessoa com quem se relacionam mais. O resultado foi surpreendente: «Houve uma interacção interessante, pois descobriram que ser sobredotado não era sinónimo de ser melhor que os outros em tudo», recorda Goretti Caldeira.

Mas, apesar das dificuldades financeiras, o pólo não pára. Em Setembro vai participar no projecto “Hands on Science”, da Universidade do Minho, enquanto que por cá iniciará uma parceria com a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do IPG no âmbito da formação em Robótica. «Somos o único pólo em Portugal que faz este tipo de trabalho», vangloria-se a coordenadora, mas esclarecendo que é por uma boa causa. É que «a brincar, desenvolvem-se capacidades intelectuais e de experimentação numa só disciplina, e eles adoram o desafio».

Luis Martins

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