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Os mundos inesperados de Philibert

Cine-Clube da UBI revela obra de um dos documentaristas mais importantes da actualidade

É um dos documentaristas mais importantes da actualidade e o tema inesperado de um ciclo na Universidade da Beira Interior promovido pela Cinubiteca na primeira semana de Junho. O cine-clube da UBI, criado no âmbito da licenciatura em Cinema, apresenta quatro filmes de Nicolas Philibert, um génio francês da realização de documentários de longa-metragem, a exibir no anfiteatro 1 da universidade e no Teatro-Cine. A principal sala de espectáculos da Covilhã encerra o evento com quatro sessões do filme “Ser e Ter”, um estrondoso e inédito êxito de bilheteira neste género de filmes.

O cartaz é ainda composto por “O País dos Surdos” (dia 2), “Animal, Animais” (dia 3) e “A Menor das Coisas” (dia 4), filmes premiadíssimos e baseados em assuntos totalmente inesperados mas ao mesmo tempo familiares. É aí que reside a originalidade de Nicolas Philibert, capaz de transformar em histórias cativantes temas que geralmente nos passam ao lado por serem, por vezes, pouco apelativos. Para tal, o realizador concilia uma visão realista do documentário com elementos que são (quase) ficcionais, criando, nomeadamente, uma gama de “personagens secundárias” que conferem aos diferentes universos que documenta um lado poético invulgar e fascinante. Tudo filmado com um grande sentido de humor e algumas situações “criadas” em que as personagens deixam transparecer a sua emoção, fazendo uma ligação entre a esfera íntima e o universo social. Acresce a este método que Philibert, licenciado em Filosofia e antigo assistente de realização de René Allió e Alain Tanner, é uma pessoa atenta ao mundo, é um realizador muito curioso e manifesta uma grande sensibilidade na abordagem dos temas escolhidos. Facetas que este ciclo vai revelar com filmes carismáticos da sua obra documentarista.

“O País dos Surdos” será quarta-feira o primeiro a ser exibido no anfiteatro 1 da UBI. Trata-se de uma produção que mergulha num país longínquo em que o olhar e o tocar são determinantes no dia-a-dia de vários surdos profundos. O filme, premiado internacionalmente, conta a sua história e faz-nos ver o mundo através dos seus olhos. Segue-se a fábula “Animal, Animais” em que o cineasta mostra um ponto de vista insólito sobre a Grande Galeria da Evolução do Museu de História Natural de Paris. Fechada ao público durante um quarto de século, o cineasta filmou o local, que guarda dezenas de milhar de animais embalsamados, durante os trabalhos de renovação apresentando-nos a sua metamorfose e a “ressurreição” dos seus estranhos hóspedes. Já “A Menor das Coisas” retrata o universo da loucura através dos ensaios de uma peça de teatro protagonizada por doentes e funcionários de uma clínica psiquiátrica francesa. Mas, para além do teatro, conta-se a vida quotidiana da instituição e revela-se o inusitado humor que se apodera de certos pacientes. Finalmente, a 6, 7 e 8 de Junho, o Teatro-Cine acolhe o último filme de Nicolas Philibert. “Ser e Ter”, visto por 1,5 milhões de espectadores em França – proeza muito rara para um documentário – causou grande polémica dado abordar a escola e as relações pessoais, afectivas, sociais e políticas que regem todo este mundo. O filme foi rodado numa pequena escola primária da região de Auvergne, no “coração” da França, e mostra o melhor e o pior deste universo peculiar.

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