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Os mitos úteis

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Os mitos úteis: ele é muito bom, ele é muito doido, ele é brilhante. Outros mitos úteis: é urgente, é necessário, é moderno, é imprescindível. Memórias desconfortáveis: era tudo mentira, foi tudo por maldade, nunca mereci aquilo. Esquecimentos seletivos: não me lembro, não sei nada disso, nunca ouvi falar, não aprendi.

A divisória confessional ou ideológica entre as pessoas tem estes pilares. A demagogia das afirmações sem nexo sustentável provoca a sensação de imperiosidade no que não é importante. E o que é importante? Para além da saúde, da educação, cultura, habitação própria, emprego e justiça, o importante é refletir sobre os caminhos a trilhar e os objetivos a conseguir com a maior transversalidade e consenso. Mas para isto há obrigatoriamente que ter um pensamento tolerante, aberto e disponibilidade de ouvir. Depois é necessário tempo, as horas de escutar e as horas de reflexão para a decisão. Mais ainda é a necessidade de não acreditar em processos demagógicos nem retratos de pessoas. A franqueza de construir os projetos com gente que sabe que é vigiada, e que tem de cumprir planos e regras. Ninguém é incomparavelmente muito bom. Este é o método simplificado de construir um caminho público: com a certeza de que nada é emergente, nada é bom porque é moderno, e que nada é comparativamente mais importante que outra opção qualquer. A nossa decisão encerra processos e por essa razão é importante. O espaço de construção que abrimos com a decisão (a escolha) torna-se alvo do julgamento posterior.

Por: Diogo Cabrita

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