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Os maiorais

Observatório de Ornitorrincos

Nas eleições de domingo aconteceram três coisas decisivas para o futuro de Portugal: a esquerda aumentou a sua representação parlamentar, os partidos do governo receberam menos votos e o Chelsea de José Mourinho foi eliminado da Taça de Inglaterra. Ah, quatro coisas: quase me esquecia de falar do PS, que teve maioria absoluta. O PS terá agora como deputados Maria Carrilho e Manuel Maria Carrilho, o que poderá confundir a oposição em debates importantes ou Bárbara Guimarães quando levar o Dinis Maria para ver o pai. Em Coimbra, foram eleitas nas listas socialistas a viúva de Sousa Franco, a irmã de Manuel Alegre e a filha de Almeida Santos. Isto não era um círculo eleitoral, era um piquenique familiar. O PSD perdeu mais de 30 deputados. José Sócrates prometeu lutar contra o desemprego e é afinal directamente responsável pela perda de três dezenas de postos de trabalho. Exigem-se estágios de formação e reconversão profissional, dada a falta de competências dos trabalhadores em causa. O Bloco de Esquerda é agora um partido verdadeiramente equitativo e paritário. O seu grupo parlamentar é composto por quatro professores e quatro mulheres. O país pode ter virado à esquerda, como se diz, mas os pandas continuam com dificuldades para se reproduzirem em cativeiro.

Todos os comentadores têm sido unânimes em assinalar as grandes responsabilidades de

José Sócrates a partir de agora, mas gostaria aqui de relembrar a importância de cada um de nós para ajudar o governo a melhorar a situação do país. Pela minha parte, estou decidido a dar o máximo. Já esta semana pedi o meu passaporte e requeri um visto permanente para a Nova Zelândia. Se cada cidadão se comprometer com metas difíceis mas realistas como emigrar ou morrer de enfarte do miocárdio, dentro de quatro anos Portugal não só será um país fácil de governar, como terá reduzido drasticamente o défice público e pode ainda vender a Serra da Estrela à Nokia para esta proporcionar fins-de-semana de paintball aos seus colaboradores.

É sabido que por toda a Europa os governos socialistas de Terceira Via são politicamente mais permissivos quanto à moral e aos costumes. O Prof. César das Neves já avisou. Com maioria no parlamento, o governo do PS vai acabar por permitir o sexo pré-matrimonial (e o recreativo acabará por chegar mais tarde ou mais cedo), as saias acima dos joelhos, os umbigos à mostra, a pornografia na internet, os rebuçados de mentol e os livros de Margarida Rebelo Pinto.

Para os que acreditam nas razões de Bukharin ou Wright Mills este discurso pouco importa porque a elite corporativa do poder se perpetua e o frango de churrasco deixa nódoas nos estofos dos carros da classe trabalhadora. Os mais conservadores, leitores como eu de Burke ou Oakeshott, preferem crer na liberdade decisória e responsabilizadora do indivíduo e das mulheres que optam por uma carreira no lap-dancing. Mas estas divergências teóricas esbatem-se ou desaparecem quando estão em causa questões fundamentais da dignidade humana, como viver em liberdade, não passar fome ou ter pares de meias escuras.

Em 2009 (ou antes, se o próximo Presidente tiver tiques sampaístas) os portugueses julgarão José Sócrates, a sua governação e as cotoveleiras dos seus casacos. Até lá teremos, por ordem crescente de importância, eleições para escolher os presidentes das câmaras municipais, o Presidente da República e o vencedor da Quinta das Celebridades 2.

EU VI UM ORNITORRINCO

Ana Drago

Ocupa no Bloco de Esquerda a quota atribuída ao espécimen de baixa estatura, como Marques Mendes no PSD e António Vitorino no PS. Tem como desafio auto-proposto acabar com toda a direita, nas urnas ou no Campo Pequeno.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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