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OS LIVROS DA MINHA VIDA

Por José Monteiro*

Os livros são o pão do espírito e assim todos os que lermos fazem parte do nosso processo de enriquecimento e de formação. Não há livro nenhum, bom ou mau, que seja inócuo, por isso, todos são livros da nossa vida. São eles que nos dão o alimento para o espírito e que nos vão fazendo cidadãos deste mundo em que vivemos. A partir de determinada altura da minha vida – corresponderia atualmente ao sétimo ano – comecei a ter acesso a bibliotecas e iniciei a minha leitura sistemática, uma vez que na casa de meu pai havia apenas um ou dois livros – determinismos económicos! Não quer dizer que a leitura seja frequente: tem épocas em que é mais assídua, outras em que rareia mais, depende muito da disponibilidade de tempo e de espírito.

O livro que me acompanhou sempre e que vou relendo é o livro dos livros, a Bíblia. Não só pela sua componente sacra, mas também pela sua importância literária: a maior parte dos temas da literatura portuguesa e ocidental radicam precisamente nela. Tentar compreender a literatura da Europa, especialmente a mediterrânica, sem ter como referência a Bíblia é ficar aquém da totalidade da sua mensagem. Mesmo o nobelizado Saramago e outros autores portugueses que se afirmaram ateus ou agnósticos não têm obras em que não haja referências diretas ou indiretas a esse LIVRO.

Os livros que desempenharam um papel importante na minha formação foram muitos e quase todos da literatura portuguesa, os ditos clássicos onde bebemos o bom português e as boas construções gramaticais. Na escola começávamos a analisar textos literários logo a partir do atual 7º ano e com isso criava-se gosto pelos bons autores. Hoje privilegiam-se outros tipos de textos! De todos os livros que li e que mais me marcaram, destaco, por exemplo, “A Criação do Mundo” ou o “Diário”, de Miguel Torga; a “Aparição” ou “Estrela Polar” de Vergílio Ferreira; “Os Maias” ou os “Contos” de Eça de Queirós; “Poemas de Deus e do Diabo” de José Régio e a obra completa do inevitável Fernando Pessoa. Uns deixaram marcas indeléveis e ainda hoje dou por mim a relembrar frases ou passagens deles, o que quer dizer que tiveram peso na minha formação; outros relembro-lhes vagamente o título e mais nada. Passaram e não deixaram marcas na vida, mas há um vestígio, por mínimo que seja, que fica sempre. Muitos mais li e penso continuar a ler e, parafraseando Vergílio Ferreira, gostaria de entrar no paraíso a ler.

*professor

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