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Os guardenses de amanhã

Hoje apostam na formação em busca de melhores dias, em breve vão entrar nas contas do mercado laboral. As esperanças são poucas, mas o otimismo próprio de quem não tem nada a perder mantém estes jovens guardenses na luta.

«Sair do país é um dado adquirido»

Raquel Ferreira

Idade: 20 anos

Curso: Enfermagem na Guarda

Ano de entrada: 2010

«Se não tivesse ficado na Guarda não teria seguido para o ensino superior», conta Raquel Ferreira. A frequentar o curso de Enfermagem na Escola Superior de Saúde da cidade, a jovem está a ano e meio de distância do ambicionado diploma.

«Sair do país é um dado adquirido neste momento», considera. «Vou tentar ficar na Guarda ou no país, mas se tiver de ir embora não vou hesitar», afirma com convicção. Com perspetivas baixas em relação ao futuro, a jovem mostra-se desiludida com o rumo da educação. «Quis estudar para ter uma vida melhor, mas não sei se não ficarei pior. Questiono-me se o esforço que pedimos aos nossos pais vale a pena», lamenta.

As propinas e as senhas da cantina, a que se juntam gastos com deslocações por causa de estágios, têm complicado a situação de Raquel e de outros jovens. «Há um declínio enorme no ensino e um aumento quase insustentável nas despesas que temos de suportar», alerta. Todavia, a experiência académica é uma mais-valia no meio de uma realidade «difícil», graças ao contacto com colegas e novas matérias. A seguir, pode vir a geriatria: «Pensei em especializar-me nessa área porque ninguém caminha para novo», declara.

« A minha escolha sempre foi sair da Guarda»

Adriana Neves

Idade: 18 anos

Curso: Psicologia em Lisboa

Ano de entrada: 2012

«Se ainda há oportunidades, estão em Lisboa», garante Adriana Neves, que se mudou em setembro para a capital. O mestrado integrado em Psicologia (Universidade de Lisboa) é o primeiro passo de um caminho que se adivinha difícil. «O tempo em que se tirava um curso e se começava logo a exercer já acabou», considera a guardense.

Ficar na Guarda nunca fez parte dos seus planos. «A minha escolha sempre foi sair, porque implica uma grande aprendizagem», justifica Adriana. Apesar de ficar mais caro, a jovem considera que «a exigência faz com que tenhamos de nos esforçar mais e isso é importante». Contudo, «os cortes na educação fazem com que seja quase um luxo suportar tudo», ressalva, lembrando a influência indireta das portagens e dos transportes.

Quanto ao futuro, diz-se otimista, mas evita «ilusões». Complicado, mas não impossível: é o seu lema. «Temos de abrir portas e adaptar-nos às situações o melhor que pudermos», sustenta Adirana. Daqui a três anos vai ter de escolher a especialidade e, se tudo correr bem, só daqui a cinco vai lutar por um lugar na sua área. Apostar no mercado laboral da região «é uma possibilidade como tantas outras», tal como a emigração «se tiver de ser».

«Os cortes tiram prestígio à educação»

Luís Marques

Idade: 19 anos

Curso: História em Coimbra

Ano de entrada: 2012

Estudar na Guarda foi ponderado, mas as opções na área de interesse de Luís Marques não o convenceram. «Queria reunir o gosto pelo curso e pelo local e, como não “encaixava” em nenhuma das escolhas da cidade, acabei por sair», adianta. A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra é agora a sua “primeira casa”, com o regresso ao interior a ter lugar «uma a duas vezes por mês».

A situação atual do ensino superior é algo que o preocupa: «Todos somos afetados de uma maneira ou de outra e os cortes tiram prestígio à educação em Portugal», considera. Porém, o guardense diz que há instituições capazes de «manter a mesma qualidade de ensino» apesar das dificuldades acrescidas que condicionam «a nossa preparação e especialização profissional». Com um otimismo saudável e ponderado, Luís tenta manter essa postura apesar das contrariedades que os estudantes enfrentam.

Tendo a vertente mais prática da História em vista, o estudante confessa não ter qualquer preferência em relação ao futuro local de trabalho. No entanto, «se for para garantir um futuro melhor para mim e para a minha carreira profissional, não terei problemas em emigrar», assegura Luís.

«Preferia não ter de emigrar»

Ana Carolina Abrantes

Idade: 20 anos

Curso: Medicina Veterinária em Vila Real

Ano de entrada: 2011

Sair da Guarda não foi a regra, mas sim uma consequência da escolha de Carolina Abrantes. «Nenhum curso do IPG ia ao encontro das minhas opções profissionais», recorda a jovem. A ida para a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) surgiu com naturalidade, uma vez que «é a melhor universidade para estudar Medicina Veterinária», na sua opinião.

A realidade da educação preocupa-a, pois «ao cortarem recursos estão a promover a sua deterioração e a manchar a nossa imagem no exterior», considera. Carolina destaca os cortes no seu curso, que «precisa de grandes verbas para equipamentos e professores especializados, pelo que somos privados de algumas aprendizagens quando se evita gastos». A jovem considera-se «otimista por excelência», pelo que acredita que «se nos aplicarmos e gostarmos do que estudamos, vamos encontrar emprego». A variedade de saídas profissionais do seu curso alimenta esse otimismo.

Quanto a trabalhar na Guarda, Carolina defende que essa «não e uma opção a descartar e depende das oportunidades». A guardense também pondera a emigração, mas «preferia não ter de o fazer».

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