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Os grandes PECadores

Perante a difícil situação que o país atravessa, tal como outros, as opiniões dividem-se. Ramalho Eanes chamou-lhe “situação financeira dramática”. Vítor Bento tranquilizou, afirmando que “Portugal não vai entrar em default”. No entanto, representaria irresponsabilidade tentar disfarçar a situação que os portugueses estão a passar. Não sendo a nossa situação como a grega, seria também irresponsável transmitir-lhes a utopia que podemos continuar, à custa de crédito, no “bem bom” que tem marcado a vida portuguesa depois de 1986. O Ministro das Finanças teve o cuidado de afirmar que “as dificuldades ainda não acabaram”. Responsavelmente, o Governo desenhou um PEC exigente. Remeteu-o a Bruxelas. Obteve a sua aprovação, mas como não há documentos previsionais perfeitos, mereceu recomendações por parte da Comissão.

Há portugueses que concordam com o PEC. Outros discordam. É a democracia a funcionar. Ninguém tem de ficar ofendido. Só quem ainda não se desligou dos tempos de Salazar é que amua quando uma votação não vai ao encontro do seu querer. Há quem considere a estratégia e as medidas preconizadas como correctas. Outros entendem que são insuficientes. Que se deveria adoptar um plano tipo Irlanda. Que não se ataca com vigor o desperdício que, seguramente, existe em grandes doses. Os gestores combatem-no constantemente, mesmo quando as organizações já estão lean. Nestas fases de dificuldade, aparecem sempre os cientistas das “medidas adequadas”. As que reduzam o défice sem incomodar ninguém. Aumentam as despesas sem cuidar das receitas. E, com uma varinha de condão, fazem o PIB dar um salto tipo Nani quando marca golo. Mas cuidado, pois alguns saltos são mortais. O que todos fogem é de atacar a enorme máquina e custos da administração pública, na qual se pode conseguir a grande redução sustentada de custos. Compreende-se pelo número de votos que representa. E entre medidas que sirvam o país e as tácticas de conquista do poder, nem sempre o primeiro é colocado à frente.

A partir de agora há que operacionalizar o PEC, o Orçamento, as grandes reformas e pensar noutras. Com determinação e sem receio das greves, das manifestações e das escaramuças no Parlamento. É preferível perder ou não conquistar o poder, mas ganhar o país.

Nesta, como noutras situações, ninguém faça de anjo não conspurcado pelo PECado da inverdade, do egoísmo, do derrotismo, do interesse e da gula pelo poder. Quando faço um exame de consciência, reconheço que, na minha longa carreira profissional e política, pequei. Nem sempre contribuí como era meu dever para evitar a situação actual. Mas não estou sozinho. Seguramente que o leitor também pecou. Se não o fez para tirar vantagens pessoais, a penitência do agravamento do IRS basta. Já os que, na presente situação, só atrapalham a acção do Governo, dos empresários, dos gestores e dos trabalhadores, públicos e privados, empenhados na recuperação do presente e garantia do futuro do país, representam os grandes PECadores. Nem indo de joelhos a Fátima os portugueses lhes perdoarão.

Por: António de Almeida

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