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«Os cursos profissionais continuam a ser uma alternativa séria na opção dos jovens»

Cristina Borges, presidente da Direção Técnico-Pedagógica da EPT apresenta-nos “Uma Escola com Vida”

Cristina Borges é Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, com profissionalização em serviço e com Mestrado em Ciências de Educação – Especialização em Administração e Organização Escolar.

Está na Escola Profissional de Trancoso há 24 anos e começou por ser professora na área do Direito. Desde aí, foi convidada para ser coordenadora de curso, diretora pedagógica e foi orientadora educativa de turma, ocupando ainda todo um conjunto de cargos que a escola pode proporcionar aos professores. Teve, também, a oportunidade de coordenar o Centro de Novas Oportunidades (CNO).

P – Este ano a Escola está a comemorar meio século de ensino profissional. Como é que vê estes 25 anos de escola?

R – A Escola Profissional de Trancoso está a formar técnicos Nível 4 desde 1989 e estes 25 anos foram uma etapa importante no desenvolvimento do ensino profissional em Trancoso e na região. Foi um tempo de criação de oportunidades de formação para muitos jovens e adultos sem formação técnica que pretendiam ter uma qualificação profissional, de desenvolvimento da região e de vários projetos nas diversas áreas de formação, de trabalho com muitos alunos e professores que por aqui passaram e de melhoria na empregabilidade nos diversos setores de atividade

P – Quais são as grandes diferenças que encontra entre os primeiros alunos e os de agora?

R – Em 1989, as escolas profissionais foram criadas para alunos que tinham abandonado o sistema educativo ou que não tiveram oportunidade de ter uma qualificação profissional. A criação dos cursos profissionais nas escolas profissionais veio permitir a estes jovens, já com alguns projetos pessoais e até com experiências de trabalho, a aquisição de uma formação técnica e profissional.

Atualmente, o público alvo é constituído, na sua maioria, pelos alunos que concluem o 9º ano, e por isso mais jovens, mas com vontade de enveredar por uma via profissional que lhes vai dar uma oportunidade de ter um percurso escolar que os orienta para um perfil profissional, que os torne aptos para integrarem o mercado de trabalho ou de ingressarem no ensino superior.

P – Quais as dificuldades que tiveram de enfrentar no início da escola?

R – As maiores dificuldades prenderam-se com a necessidade de instalações adequadas à formação ministrada na Escola. A falta de espaço para as atividades letivas era colmatada com o facto da escola ter alunos em vários locais de Trancoso, como por exemplo, zona industrial, centro histórico e em Fiães…; os professores deslocarem-se para os vários locais a todas as horas. Outra dificuldade prendia-se, por exemplo, com a falta de regulamentos e de instrumentos de acompanhamento desta formação que tiveram de ser criados pela equipa de professores e de ser um campo de trabalho inovador para todos, incluindo a operacionalização da estrutura modular.

P – E neste momento, quais são as dificuldades?

R – Neste momento, a maior dificuldade é sentir que a autonomia do projeto da escola profissional colide com um conjunto de normativos que dificulta o trabalho a desenvolver… o limite da idade dos alunos, a sua origem, o número de alunos por turma – que não tem em conta as zonas mais despovoadas do país -; a criação dos cursos profissionais nos agrupamentos de escolas, que nem sempre têm instalações adequadas ou equipamentos técnicos necessários à formação; a falta de financiamento para as atividades de acompanhamento da formação e para contratar profissionais para o desenvolvimento de atividades extracurriculares que “prendam” os alunos à Escola e possam desenvolver as atividades de forma mais criativa. Estas são algumas das dificuldades que poderão ser resolvidas e, assim, permitir que este seja um projeto de formação diferente preocupando-se não apenas com a formação técnica, mas com a formação integral dos alunos.

P – Quais foram os primeiros cursos da escola profissional?

R – No ano da criação da escola, tínhamos os cursos de técnico de gestão agrícola – Nível 3 e Operador Agrícola – nível 2; curso de mecânica/frio e climatização e curso de contabilidade. A estes foram acrescentados, no segundo ano da Escola, os cursos de técnico de secretariado em organizações de economia social e animador sociocultural Estes cursos tinham muita procura na época, pois a região estava carecida destes profissionais.

P – E hoje? Que constrangimentos é que a Escola enfrenta? Continua a fazer sentido, na atualidade, este projeto com estes objetivos?

R – A Escola continua a ser um polo de desenvolvimento da região e deverá continuar a ter a possibilidade de oferecer cursos profissionais que dêm resposta aos jovens que querem obter o nível secundário e possuir uma qualificação profissional que lhes permita uma melhor integração no mercado de trabalho.

Face à articulação do trabalho de rede desenvolvido pelo ministério da Educação e Ciência, as escolas terão que se especializar, cada vez mais, em determinadas áreas de formação, aproveitando as suas instalações, os seus recursos tecnológicos e os professores que continuam a ser profissionais que mantêm uma ligação próxima com os alunos e que se preocupam com o sucesso escolar dos mesmos.

P – Que objetivos pretende para o futuro da escola profissional de Trancoso?

R – Que a escola continue a formar técnicos para o mercado de trabalho e que estes sejam reconhecidos pela qualidade da sua formação. Que continue a ter uma equipa de trabalho coesa e colaborativa, como até ao momento, e preocupada com o sucesso escolar dos seus alunos. É importante ainda que a escola inicie o seu processo de certificação de qualidade. Curiosamente, a garantia de qualidade das escolas profissionais é uma das orientações previstas no novo regime jurídico das escolas profissionais, que entrou em vigor no passado dia 23 de junho.

P – Pensa que a escola profissional de Trancoso poderá ser uma boa aposta para o futuro dos alunos?

R – Os cursos profissionais continuam a ser uma alternativa séria na opção dos jovens, pois têm a possibilidade de tirar uma formação de nível secundário, enriquecida com um conjunto de experiências que os liga às empresas, quer ao nível da formação em contexto de trabalho (FCT), quer ao nível da execução dos projetos de aptidão profissional (PAP). Para além disso, deverá ter um conjunto de atividades de enriquecimento do currículo que desenvolvam outras competências, para além daquelas que são adquiridas pelo jovem durante o seu período de formação e de acordo com o seu perfil profissional.

P – Considera importante a relação da Escola com as Famílias dos seus alunos? Como é que esta se concretiza?

R – É muito valorizada no desenvolvimento do projeto a ligação escola-família. É muito importante que a família se envolva na escola e conheça o trabalho que aqui se desenvolve. Assim, os pais vêm à escola no primeiro dia de aulas para conhecer a estrutura pedagógica que os irá acompanhar; os pais marcam presença na escola no encontro de pais que se realiza num dos primeiros domingos do mês de janeiro para receber as informações respeitantes ao seu educando e, no terceiro período, voltam à escola para receberem o resultado escolar. Mas, os orientadores educativos de turma estão sempre disponíveis para responder a qualquer solicitação dos encarregados de educação, na escola e, muitas vezes, fora da escola.

P – O trabalho dos alunos também deve ser reconhecido. A escola tem alguma forma de reconhecer o mérito?

R – São entregues prémios de mérito e de assiduidade ao melhor aluno de cada turma / curso. Valorizamos o mérito, pois os alunos que mais se destacam devem ser conhecidos de todos!

P – Que oferta formativa tem a Escola para oferecer no próximo ano letivo?

R – No contexto atual a aferta formativa surge tendo em conta as áreas definidas como prioritárias e da articulação do trabalho definido em rede com as várias escolas da região. Assim, e tendo também em linha de conta as necessidades do tecido económico e social envolvente, a escola vai oferecer os seguintes cursos profissionais: Gestão de Equipamentos Informáticos; Manutenção Industrial/ Mecatrónica Automóvel, Energias Renováveis; Comunicação, Marketing, R.P. e Publicidade e Comércio.

Acreditamos que a oferta apresentada vai de encontro ao interesse dos jovens que vão procurar a nossa escola representando estes, um forte investimento de qualidade na sua valorização pessoal e profissional e simultaneamente uma notória mais valia para a sua entrada no mercado de trabalho.

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