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Os Argumentos dos Simples

António Costa acha que estamos melhores do que em 2011. Talvez tenha razão nalguns aspectos, que os juros da dívida pública baixaram, assim como baixou a Euribor, o preço do petróleo, o número de desempregados ou de insolvências. O PSD gostou do que disse Costa, interpretando as palavras dele como um elogio involuntário à governação. Falta, claro, estabelecer a relação de causa-efeito, mas ninguém se parece preocupar muito com isso. Foi a boa governação de Passos Coelho que melhorou os números ou estes melhoraram apesar de Passos Coelho e poderiam ser muito melhores? Nunca o saberemos ao certo, mas há algumas coisas que parecem evidentes: se trezentos mil portugueses em idade activa emigram, é natural que baixe o número de desempregados. Se a maior parte das empresas em dificuldades já fechou, há certamente menos insolvências.

Chama-se a isto bater no fundo e dificilmente governo algum, ao menos de gente com dois dedos de testa, gostaria de exibir estes números como bandeira. Mas há evidentes sinais de recuperação, como sejam o aumento do consumo privado, alguma criação de emprego, a abertura de novas empresas, o aumento das exportações. Será aqui que Passos Coelho pode reclamar os seus louros? As exportações aumentaram porque, entre outros factores, a Galp abriu uma nova refinaria e porque entrou em produção no Alentejo um dos maiores olivais do Mundo. Quanto ao aumento do consumo privado, este não se deve certamente à reposição de salários e pensões, que ainda não passa de uma promessa, e terá melhor justificação do que a governação que nos tem sido infligida.

Se houvesse algum rigor na argumentação política, alguma honestidade intelectual, cruzar-se-iam as políticas com os resultados, mas estamos em Portugal e isso é esperar de mais. Temos governantes que fogem ao fisco e à segurança social, como o actual primeiro-ministro, que fazem grandes negócios com bancos falidos, como o presidente da República, ou que estão presos, como o anterior primeiro-ministro, pelo que deveríamos travar as nossas expectativas em relação a honestidade e rigor. Mesmo assim, é desagradável a forma como eles parecem achar que somos todos estúpidos.

Olhando para os valores disponíveis, não é fácil encontrar um dado positivo da actual conjuntura que se possa imputar com um mínimo de segurança à actuação do governo e é por isso, e em conclusão, grotesca a forma como o PSD tem cavalgado a suposta gafe de António Costa. Não é fácil também encontrar um bom argumento para substituir o PSD pelo PS nas próximas eleições, mas isso é outra história.

Por: António Ferreira

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