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Os acasos de Fleming

Mitocôndrias e quasares

Apesar de ainda faltar cerca de um mês para ficarmos a conhecer os nomes dos galardoados com os prémios Nobel, não quero deixar passar 2015 sem fazer referência aos 70 anos sobre a atribuição a Alexander Fleming do Prémio Nobel da Medicina por ter descoberto, quase por acidente, a penicilina.

Fleming nasceu no condado de Ayshire, uma das zonas mais férteis da Escócia, no dia 6 de agosto de 1881, numa família de agricultores. Com 13 anos mudou-se para Londres, cidade onde realizaria os seus estudos de Medicina. Licenciado com distinção, começou a sua carreira como investigador no Instituto Saint Mary sob a tutela de Almroth Wright, um infetologista especialista em vacinação. Durante a Primeira Guerra Mundial trabalhou como médico militar e a experiência com feridos graves levou-o a procurar, uma vez finalizada a guerra, um antisséptico que pudesse ajudar a evitar a infeção das feridas. Novamente no Instituto Saint Mary fez experiências com uma cultura bacteriana sobre a qual alguém espirrou acidentalmente. Dias depois notou que as bactérias sobre as quais tinha caído o fluido nasal estavam mortas: foi a descoberta da lisozima, uma enzima presente nas lágrimas e na saliva que atua como proteção contra as infeções. Anos mais tarde, em 1928, enquanto estudava o vírus influenza, Fleming descobriu, novamente por acidente, que um fungo tinha crescido sobre as placas de Petri nas quais estavam culturas de Staphylococcus aureus. Aparentemente, o fungo havia destruído as bactérias, pelo que Fleming decidiu continuar os estudos com o fungo (chamado posteriormente Penicillium notatum) e conseguiu finalmente descobrir a penicilina.

Esta substância ativa mostrou-se eficaz na destruição de muitos tipos diferentes de bactérias, uma vez que não danificava os tecidos humanos. Contudo, as tentativas de obtê-la de maneira fácil e económica falharam, já que Fleming não contou com o apoio da comunidade científica. Foi apenas na década de 1930, antes da Segunda Guerra Mundial, que os cientistas Howard Florey e Ernst Boris Chain conseguiram aplicar a penicilina em fármacos que foram administrados a feridos de guerra com resultados assombrosos. Na década de 1940 a penicilina já era produzida de forma maciça em empresas farmacêuticas norte-americanas e britânicas.

Como foi referido anteriormente, em 1945, Fleming recebeu o Prémio Nobel da Medicina pela sua descoberta, mas sendo um homem humilde e bondoso, declarou que «é a natureza quem fabrica a penicilina, eu apenas a encontrei» e decidiu não patentear a sua descoberta para facilitar a sua utilização no desenvolvimento de medicamentos para toda a população.

Fleming foi autor de numerosos artigos sobre bacteriologia, imunologia e quimioterapia, e continuou a sua carreira no Instituto Saint Mary até à sua morte, em 1955, devido a um ataque cardíaco.

Por: António Costa

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