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O(s) 10 de junho na Guarda e o 3º segredo de Fátima

Inevitavelmente, se as macro e as micro políticas para a Guarda não forem alteradas, e a continuar este rumo, a próxima vez que as comemorações do Dia de Portugal vierem à cidade não passarão de uma visita presidencial a uma reserva natural.

As comemorações do Dia de Portugal são aqui referidas como um símbolo, nada mais.

Trinta e sete anos separam as primeiras comemorações do Dia de Portugal ocorridas na Guarda, no longínquo ano de 1977, e as comemorações deste ano. Um tempo considerável, mas inequivocamente marcado por um desenvolvimento no sentido descendente em quase todos os sectores: da indústria à agricultura passando pelos serviços, o saldo é francamente negativo.

Em consequência, e não é necessário ser técnico para aferir no dia a dia uma verdade evidente: aldeias – mais distantes ou até mais próximas – quase todas vazias, lugares reduzidos a isso mesmo, lugares, habitados por meia dúzia de idosos, onde abunda o musgo e a erva nas ruas e os telhados caídos. Serão, a muito curto prazo, se não desertas, transformadas em quintas de um único quinteiro.

Mas não se julgue que esta realidade é apenas do meio rural. Se daí, enquanto houve, foi drenada gente para a cidade, hoje esse manancial esgotou e já não há mais para drenar. Também a cidade começa ela própria a diminuir, pois além de já não receber os vizinhos, não aumenta ela por si e ainda deixa sair os seus. Todos estes meios, não só deixaram de exercer atração, como não sustentam os nascidos, que, depois de atingirem a idade adulta, perante a falta de oportunidades, rumam a outras paragens.

Se isto é uma verdade incontestável, de igual modo é inegável a incapacidade política para lhe fazer face, seja ela do poder central ou poder local. Aqui nenhum partido está excluído de responsabilidades, uma vez que as medidas propaladas para inverter esta situação não passam de conversa e de meros paliativos que nada mudam. Houvesse verdadeira vontade e querer político, e alguma dose de inteligência, e certamente a realidade seria bem diferente.

Confesso que esta realidade me assusta, porque aquilo que faz um povo não são os lugares, mas sim as pessoas – e essas, por estas paragens, são cada vez menos. Das poucas coisas que crescem uniformemente por todas as localidades são os cemitérios.

Recorrendo ao cálculo aritmético, e se tivermos por base o tempo que mediou entre as primeiras comemorações e as segundas, as possíveis terceiras comemorações do Dia de Portugal na Guarda ocorrerão por volta de 2050. Ora, e seguindo o raciocínio lógico-dedutivo da evidência até agora demonstrada, nessa altura provavelmente todos os sectores de atividade estarão reduzidos à insignificância e o efetivo populacional será ridículo.

Perguntar-me-ão então: qual a semelhança das comemorações, e nomeadamente de uma possível terceira edição, com o terceiro segredo de Fátima?

Trata-se disto: um segredo bem guardado e envolto em altíssimas espetativas, quiçá descomunais, mas que, depois de revelado, nada de proeminente dizia. Aqui o segredo será evidente – se não forem feitas alterações estruturais, esta será uma região vazia. Não há segredo mais previsível.

Por: Acácio Pereira

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