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Opinião e democracia

Menos que Zero

Na sua edição do passado domingo, o jornal espanhol ABC publicou um estudo onde se conclui que o correcto funcionamento das instituições democráticas só é possível com cidadãos politicamente bem informados. Mas para isso é preciso captar a atenção dos cidadãos para as notícias sobre política, pelo que a investigadora responsável pelo estudo sugere novas abordagens mediáticas e mais instrumentos de promoção da leitura.

O assunto é suficientemente importante para merecer uma reflexão, pois a deficiente formação política da população – e consequente adormecimento do espírito crítico – tem vindo a favorecer partidos e políticas de cariz populista. O resultado desta tendência é uma governação ao sabor dos votos, com consequências nefastas a médio prazo.

Ainda de acordo com este estudo realizado para a Fundación Alternativas, rádio e imprensa escrita são os meios que mais contribuem para a formação política dos cidadãos, mas é preciso estar atento às pressões políticas exercidas sobre os grandes grupos de comunicação. Estas pressões podem condicionar as notícias de tal forma que, ao não serem contextualizadas e tratadas de uma forma independente, acabam por perder o seu potencial efeito pedagógico.

Para assegurar a perfeito funcionamento do sistema, a autora sugere algumas medidas como a distribuição gratuita de jornais nas escolas ou o financiamento estatal dos jornais regionais para que mantenham a sua independência em relação aos partidos políticos. Evita-se assim aquilo a que ela chama a “polarização ideológica”, ganhando-se em diversidade de opinião.

É gratificante confirmar que o jornalismo independente e plural continua a ser reconhecido como um importante instrumento para a manutenção da democracia mas, infelizmente, em muitas regiões de Portugal tudo parece indicar o contrário. Para alguns políticos, o facto dos cidadãos acederem ao espaço público, escrevendo num jornal, parece ser um crime.

Já disse e repito: a escrita é uma forma de participação cívica semelhante ao desempenho de cargos políticos. Por isso, numa verdadeira democracia a participação dos cidadãos deve ser incentivada nas secções de “Cartas do Leitor” ou nas colunas de opinião. Mas não é isso que acontece. Os cidadãos que partilham a sua opinião nos jornais sujeitam-se a ser alvo de processos por vezes fundamentados em denúncias anónimas não comprovadas ou até em acusações com base no “ouvi dizer que”. Como “quem não deve não teme” e a Justiça, felizmente, ainda funciona, quem acusa infundadamente acaba, invariavelmente, por ser alvo de um processo por difamação.

Num país que se diz desenvolvido, as opiniões contam. Contam no momento do voto, mas também nos espaços mediáticos colocados ao dispor dos cidadãos pois, como refere o estudo espanhol, só uma informação política independente, contextualizada e variada garante o correcto funcionamento do sistema democrático.

Por: João Canavilhas

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