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Opções positivas

Editorial

1 Anunciado há dois meses, o “call center” da Randstad, na Guarda, já entrou em funcionamento. A inauguração, com pompa e circunstância, contou com a presença do ministro da Segurança Social e mereceu o aplauso generalizado. Não é o resultado de um grande investimento, nem a instalação de uma grande empresa, mas é a instalação de uma unidade que emprega já 42 pessoas e mais 40 brevemente. Numa cidade como a Guarda, onde há falta de trabalho e milhares de pessoas tiveram de partir nos últimos anos por não terem emprego, o aparecimento de um empregador com esta dimensão é de facto uma excelente notícia. Claro que, infelizmente, ficamos satisfeitos com pouco – é trabalho precário, de baixa remuneração, pouco especializado e sem grande futuro profissional – mas é mais do que aquilo que havia.

As instalações, no Parque Municipal da cidade, foram adaptadas há seis anos para albergar o “call center” da Adecco. Então, a um mês das eleições autárquicas, foi com estrondo que a candidatura socialista anunciou a chegada de «centenas de novos postos de trabalho». Quatro anos depois a Adecco encerrava na Guarda atirando para o desemprego as 25 pessoas que contratou e sem nunca ter pago um tostão de renda. Deixava devoluto um espaço onde a Câmara da Guarda gastou quase meio milhão de euros em obras de adaptação – e nunca foram exigidas responsabilidades pela gestão danosa e pelo crime de malversação de dinheiros públicos pelo anterior executivo – mas que, agora, com mais obras pagas pelo erário público, serve para instalar o centro de contatos onde se irá falar em francês.

2 O PSD deverá apresentar hoje os candidatos à Assembleia da República. As listas apresentam uma renovação de setenta por cento dos nomes em relação às anteriores legislativas, que levarão para o parlamento muitos repetentes, mas também muitos regressos e gente nova. Um dos principais regressos é o de Manuel Frexes, antigo subsecretário de Estado da Cultura (de Cavaco Silva) e ex-presidente da Câmara do Fundão que, depois de deixar a autarquia para ir para a administração das Águas de Portugal, regressa à política e será deputado por Castelo Branco. Mas se em Castelo Branco não houve surpresas nem controvérsias, as escolhas na Guarda foram menos consensuais. Para encabeçar a lista apostava-se em Barreto Xavier, mas afinal será o líder da distrital, Carlos Peixoto – que por estes dias é recordado nas redes socias pelas piores razões: a sua entrevista ao jornal “i” em 2013 pouco afável com a «população grisalha» e os imigrantes e outra entrevista em que se revelou contra o casamento homossexual, com argumentos obtusos como o de que isso «abre as portas a casamentos entre pais e filhos». Rapidamente assumido Peixoto como o primeiro nome, a surpresa vem a seguir: Cidália Valbom, conservadora do Registo Predial, fora já uma surpresa na fracassada candidatura de Virgílio Bento à Câmara da Guarda, e que espantosamente terá sido agora indicada por Álvaro Amaro (que assim, impõe os dois primeiros nomes). Não se lhe conhece qualquer ideia sobre política para o país ou região e, salvo o aparecimento fugaz na candidatura independente, não se lhe reconhece qualquer intervenção na sociedade. Pode revelar-se, mas, a priori, não se compreende o prémio de deputada, seguramente muito mais merecido por Ângela Guerra, que deverá ficar em terceiro na lista do PSD, fez um mandato interessante e é presidente da Assembleia Municipal de Pinhel. Se os eleitores do distrito da Guarda votassem pelos candidatos a deputados, o PSD da Guarda arriscava-se a ter um dos piores resultados de sempre; como irão votar ponderando o resultado nacional, o PSD elegerá pelo menos dois deputados, e deve aspirar a manter o terceiro (o PS não descola; a hecatombe anunciada para o PSD é passado; a coligação será, no distrito, a soma das partes). Melhor, muito melhor, é a “conquista” de João Queiroz para mandatário. Interessante será a presença de tantas mulheres na lista.

3 Depois das medidas de apoio financeiro anunciadas para os estudantes que optem por estudar nos politécnicos e universidades do Interior do país, com uma bolsa de mobilidade com incentivo para os alunos que optem por cursos das regiões periféricas, o governo lança outro projeto que pode ser determinante para o interior: a instalação de três laboratórios de excelência. As universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real), da Beira Interior (Covilhã) e de Évora verão a sua capacidade de investigação ser reforçada e as regiões poderão passar a beneficiar de um novo limiar de massa crítica e de um progressivo desenvolvimento social, económico e cultural. Só com medidas destas será possível promover a coesão do país.

Luis Baptista-Martins

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