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Olhares sobre Vergílio Ferreira

Especialistas juntam-se em Gouveia num colóquio dedicado à obra escritor

A inesgotável obra de Vergílio Ferreira volta a abrir-se na próxima semana para os seus mais destacados estudiosos no âmbito dos “Encontros de Gouveia com Vergílio Ferreira”. Este colóquio, organizado pelo Departamento de Letras da Universidade da Beira Interior e a Câmara da “cidade-jardim” na quarta e quinta-feira, apresenta novos olhares sobre a criação vergiliana. Durante dois dias, o Cine Teatro local é o palco de um encontro de perspectivas para aprofundar o conhecimento e a reflexão sobre um dos mais enigmáticos e estudados escritores portugueses contemporâneos.

Desaparecido em 1996, Vergílio Ferreira (natural de Melo, freguesia gouveense) legou ao município um vastíssimo espólio constituído por centenas de livros, todos anotados, que podem ser vistos na biblioteca que ostenta o seu nome. O objectivo futuro é transformar Gouveia no epicentro dos estudos vergilianos, embora a parceria lançada no final da década de 90 entre a autarquia e a UBI tenha ela própria parado no tempo. Até lá, as duas entidades vão contribuindo para o estudo crítico da obra nas suas facetas mais variadas, sendo que este ciclo de conferências é o segundo capítulo de um seminário realizado também em Gouveia em Novembro de 2001. Desta vez, o ponto de partida é a região serrana, tantas vezes fonte de inspiração na sua obra, com Alípio de Melo a retratar, no primeiro dia, a “Sala de Vergílio Ferreira em Gouveia”. Uma alegoria bucólica perfumada a saudade e a sentimentos telúricos que contrasta com “As visões apocalípticas na ficção vergiliana”, apresentadas por Anabela Morais. Duas reflexões moderadas por Henrique Manso e Noemi Pérez. Durante a tarde, Luís Mourão revelará outro capítulo, preocupando-se com o “Vergílio anacoluto: life after theory”, enquanto Cláudia Tomás se preocupará com “A busca da palavra nalguns romances de Vergílio Ferreira”.

O primeiro dia destes “Encontros” ficará ainda completo com a conferência de Sara Candeias (docente da UBI) sobre “A(s) configuração(ões) semântico-temporal (ais) potenciada(s) pelo PRET nas falas das personagens vergilinianas: um universo de ocorrências?”. Uma intervenção seguida da análise de Paulo Osório (UBI) e Mário Jorge Torres (Universidade Clássica de Lisboa) ao livro “Manhã Submersa” e ao filme homónimo de Lauro António, para deslindar “a leitura e a pragmática do Reitor e a ironia cinematográfica da autorepresentação”. Um segundo painel moderado por Reina Pereira, antes de um pequeno recital intitulado “Cantares”, por Leonor. No dia seguinte, abre-se outra página pela mão de Fernanda Irene da Fonseca (Universidade do Porto), Ana Turíbio, a propósito do “Labirinto da palavra” que é o espólio do escritor; Ana Chora, que definirá uma “Paleta de cromática de Vergílio Ferreira”; e Rogélia Proença (UBI), cuja tarefa será estabelecer uma relação entre o olhar e o espaço em “Uma Esplanada sobre o Mar – Vergílio Ferreira, ou a Re-presentação da Vida”. À tarde, Helder Godinho (Universidade Clássica de Lisboa) regressa a Gouveia para apresentar “alguns problemas” na relação entre o escritor e a questão da identidade, cabendo a um dos maiores estudiosos da obra vergiliana o encerramento destas conferências. Trata-se de Gavílanes Laso (Universidade de Salamanca), que falará da sua “Correspondência Epistolar” com o autor de “Aparição”. Os “Encontros” terminarão com um recital de oboé e piano, dois dos instrumentos mais referenciados na obra de Vergílio Ferreira, por Jean Michel Garretti (oboé) e Lucas Antoniotti (piano), que interpretarão obras de Teleman. Saint-Saens, Benjamin Britten, Tessarini, Schubert e Carl Ivon. Paralelamente, os interessados poderão ainda apreciar a exposição “Sobre o Silêncio da Terra” no Museu Abel Manta, entre 25 e 30 de Outubro, uma mostra integrada na Rota dos Escritores da Região Centro por ocasião da Coimbra 2003 – Capital Nacional da Cultura.

Luis Martins

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