Arquivo

Oh, limpo!

Observatório de Ornitorrincos

No sábado passado, depois de ser publicado o meu texto sobre ciclismo nestas páginas de O Interior, um português sacou uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos, precisamente nessa modalidade. Fosse eu um Ferro ou um Costa e escrevia já umas duzentas páginas a afiançar que o senhor Paulinho, que nem consta no site oficial dos Jogos, armou aquela palhaçada para me deixar mal visto. Mas matematicamente não é possível que o esmerado ciclista tenha lido o Observatório da semana passada, já que um conjunto vazio (leitores desta coluna) não pode conter nenhum elemento, mesmo que seja ciclista e vice-campeão olímpico. Assim, talvez o segundo lugar alcançado se explique por outra razão: a já referida ausência do nome de Sérgio Paulinho no site oficial dos Jogos. Um tipo que não existe não incomoda. O pelotão julgou sempre que aquele rapaz era um penetra simpático e estava ali para dar conversa amiga ao italiano que já se pisgara. Um alemão que era favorito mas perdeu, quando viu a cerimónia de entrega das medalhas exclamou mesmo “Olha, mas estão a dar a medalha a um holograma? Esse gajo não existe, pá!”

Depois disso, os Jogos têm sido um pequeno fracasso para Portugal. A selecção de futebol perdeu com a do Iraque, com certeza como forma de retaliação à presença da GNR no seu país, os nadadores vão alternando entre o último e o penúltimo lugar das eliminatórias, os judocas caem mais ao chão que o João Pinto, os velejadores, longe das lojas Gant, Armata Di Mare, Mike Davis, Lacoste, Timberland ou Tommy Hilfiger, sentem-se em ambiente hostil e ficam psicologicamente fragilizados. Felizmente, em Atenas é possível encontrar Prada original, o que permitiu aliás a um dos velejadores vencer a primeira das regatas. No tiro, o costume. O atirador português ameaçava partir a loiça toda, mas ficou-se por meia dúzia de pratos. O senhor da esgrima também perdeu. Os treinos contra a sua colecção de borboletas empalhadas acabaram por não resultar da forma pretendida. Finalmente, os amigos Maia e Brenha, os primeiros classificados dos gajos que não ganharam nenhuma medalha no voleibol de praia nas duas anteriores edições dos Jogos, lá ganharam um jogo depois de perderem outro. No fundo, estão empatados com eles próprios.

Esperemos agora por ver quem, no atletismo, desilude mais depressa. É bom que se despachem a perder. As esperanças acrescidas de um português ganhar qualquer coisinha nas corridas é sempre mais um bocado de produtividade que se perde. Chegar, perder e arrumar, parece-me um bom lema para a selecção olímpica.

PS: A semana passada referi as Ilguíadas (ou Olimpíadas da ILGA) e não dei conta da modalidade principal, os saltos para a água sincronizados. Um profissional desta especialidade é alguém que passa os dias com um companheiro a dar piruetas e saltos mortais para a água ao mesmo tempo. Como diria Luís Fernando Veríssimo, Homem Que É Homem não dá saltinhos amaneirados para a água. Muito menos acompanhado.

EU VI UM ORNITORRINCO

Procurador-Geral da República

Espécie comum na colónia. Fala pelos cotovelos, diz tudo o que não pode e não deve, mas cala-se quando deve ser ouvido. Tem tanta dificuldade em guardar um segredo como o Manuel Luís Goucha em ser comedido. Tem ventosas extremamente potentes que o fixam a um lugar, sendo praticamente impossível arrancá-lo. Além disso, convive com fauna variada, como assessoras acusadas de violar sistematicamente o segredo de justiça. (Se o segredo fosse menor de 14 anos, poderíamos ter mais um caso de pedofilia.)

Por: Nuno Amaral Jerónimo

Sobre o autor

Leave a Reply