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Obesidade

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Tenho um fascínio pelas epifanias, pelos momentos de antes e depois, aqueles dias em que tudo se reduz à descoberta de que estávamos a pensar menos bem ou mesmo errado. A medicina contemporânea vai a par com a biologia, a física e tantas outras ciências criando caminhos, abrindo estradas de desenvolvimento e neste percurso vamos resolvendo muitas doenças antigas e outras que até supusemos não o serem.

A obesidade mórbida é hoje um conceito com poucos anos, e a doença em si mesma não se aceitava há 50 anos. A percepção de que podíamos ter pessoas com 350 kg e mesmo atingindo 420 era quase inverosímil, mas elas apareceram e percebemos que havia uma estrada a desenhar para contrariar este processo assimétrico dos milhões que morrem de fome.

Começou-se por diminuir o estômago por laparotomia (barriga aberta) e depois o advento da laparoscopia (vídeo assistidas) permitiu o “by pass” e a banda gástrica. Colocaram-se milhões de bandas gástricas e depois percebeu-se que o resultado à distância era caro e muitas vezes falhava (o “yo-yo” voltava a funcionar).

Agora pensa-se fisiologicamente e o advento de descobertas como a bioquímica do apetite, os péptidos associados à saciedade, a grelina (ghrelin) e o GLP-1, vieram revolucionar a própria ideia de abordar estas obesidades. O novo advento é a “sleeve gastrectomy” (tubulizar o estômago retirando-lhe a maior parte do antro onde se produz ghrelin) e criando uma adaptação digestiva ao nível do íleon, que aparentemente conseguem resultados fenomenais a longo prazo, sem produzir os efeitos secundários de tudo o que até aqui se fazia.

Esta ideia surgida há quatro anos é uma evolução extraordinária e pode mudar completamente a humanidade. Pode fazer-se por razões estéticas, pode ser prévia ao aparecimento do medicamento que resolve o problema. O medicamento nasce das oportunidades de estudo que surgem destes trabalhos e também este rio de processos esta correnteza do conhecimento é deslumbrante e me excita. Hoje, discute-se o tratamento cirúrgico da diabetes tipo 2 e isso é uma epifania.

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