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O verão vai longo…

Editorial

1. O verão é a estação! É a época do ano por excelência. O verão é como “uma suite de violoncelo”. Único e incomparável. É o calor que aperta, são as férias, é o tempo da criançada brincar na rua, nas praias, no campo. É o tempo das festas populares e das romarias, dos emigrantes que enchem as nossas aldeias, da alegria que o calor sugere. É tempo de lazer e de conhecer, de viajar pelo mundo, mesmo quando o mundo não passa da aldeia onde nascemos ou crescemos e que visitamos sentindo o cheiro que já esquecêramos, mas que reconhecemos como o nosso. Por tudo isto, ou também por tudo isto, Ruy Belo esperava pelo verão, «como por outra vida»! Como se depois do calor tudo se transformasse e nascesse uma nova dimensão, uma nova realidade, um novo tempo. Uma outra vida!

É assim que faz sentido olhar para o verão. É assim que faz sentido sentir o verão.

O verão ainda vai ter algumas semanas. E há mesmo previsões que mandam o verão para setembro. Para aproveitarmos mais dias e semanas. Para depois regressar. Porque depois do verão tudo volta a começar.

E é aí que todos voltamos a perceber que a imensa luz do verão é ofuscada pela realidade. Que as aldeias estão vazias e já não há crianças para brincar; que a alegria foi um intervalo; que não há empresas, nem emprego; que as dificuldades e os sacrifícios são de novo o horizonte… Mas, entretanto, aproveitemos as últimas semanas de verão acreditando que o que virá depois será melhor do que aquilo que foi o resto do ano.

2. Quatro autarquias irão recorrer ao Fundo de Apoio Municipal (FAM), promulgado segunda-feira por Cavaco Silva: Aveiro, Nazaré, Portimão e Vila Nova de Poiares. Mas se estas quatro estão com a corda na garganta e já não terão dinheiro para pagar salários e muito menos aos fornecedores, Vila Nova de Gaia e Fornos de Algodres deverão ir pelo mesmo caminho nos próximos dias e, segundo o governo, haverá mais 13 municípios com grandes dificuldades económicas e que serão obrigados a recorrer ao FAM e mais 23 terão acesso facultativo ao fundo, se entretanto conseguirem normalizar a sua situação financeira. Ou seja, dos 308 municípios, mais de 40 estão em situação de desequilíbrio ou grande desequilíbrio. Depois há várias outras autarquias com um nível de dívida elevado e perigoso, porque ao longo de anos não houve parcimónia e controle da despesa – como foi o caso das câmaras da Covilhã, Fundão ou da Guarda.

Ao longo dos últimos cinco anos, muitos municípios foram sendo alertados para a necessidade de procurarem equilibrar as contas e houve quatro programas de apoio para responder às dificuldades dos autarcas. Infelizmente, tal como na administração central, não o fizeram. As contas públicas em Portugal continuam a derrapar. E as câmaras municipais continuam a contratar pessoas da respetiva cor partidária, a promover e a criar chefias por compadrio e amiguismo, e a fartar vilanagem. As que estão à beira do colapso financeiro e as outras…

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
Ed Wanderley de Andrade ewandrade@hotmail.com
Comentário:
Tudo isso é verdade, pois vivo eternamente em verão, aqui no Nordeste do Brasil, mas sinto falta, como uma saudade de algo que nunca senti, de uma temperatura mais amena, como vejo em fotos das primaveras de Alentejo e Algarve.
 

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