Foi preciso entrar em crise, económica e financeira, para que os governantes europeus se apercebessem dos salários escandalosos dos gestores dos bancos e das empresas de consultadoria. O hábito de estabelecer ordenados milionários generalizou-se. Andavam distraídos? Claro que não. Qualquer político inteligente ambicionará chegar a um lugar de destaque num banco ou empresa financeira por razões óbvias. Assim, não havia qualquer interesse em debater ou colocar em causa ordenados perfeitamente desajustados em relação ao PIB do país. Na realidade todos nos perguntamos se o dinheiro ficará mais barato se pagarmos menos a quem faz a sua gestão. Ou de outra forma, eu pergunto: “o que é que tem o Barnabé para ser diferente dos outros” e ganhar mais? Haverá uma diferença tão grande que permita que o ordenado mensal de um trabalhador seja equivalente ao de toda uma vida de quatro trabalhadores? Sarkozy aborreceu-se e trouxe a questão para cima da mesa. Provavelmente nada mudará.
Os governos dos países mais ricos da Europa já injectaram dinheiro nos grandes bancos europeus no sentido de “aumentar a confiança” dos clientes. Não estariam já os bancos à beira do abismo? A OIT estima que por causa da crise mais 20 milhões de trabalhadores irão para o desemprego, alguns serão indiscutivelmente portugueses.
A Islândia está à beira da falência.
Algo vai mal no sistema capitalista actual que precisa de ser repensado, menos valorizado, afastado da tentação do lucro imediato e da especulação. É preciso tomarmos mais consciência do real valor dos bens e menos do seu preço.
O petróleo sobe, a gasolina sobe; o petróleo desce, a gasolina não desce.
A electricidade é muito barata. As telecomunicações demasiado caras. Compare as facturas.
O cheiro do dinheiro
Na segunda-feira foi o dia mundial da osteoporose. É bom ouvir as notícias da manhã para sabermos estas coisas. A osteoporose atinge 500 000 portugueses, a diabetes atinge outros tantos, a hipertensão arterial vitima quatro milhões, o excesso de colesterol uns dois milhões. Em alguns casos o mesmo doente sofre de todas estas doenças. Para as tratar pode gastar por mês mais de 300 euros em medicamentos (preço total) e consumir cerca de 200 euros entre consultas e exames complementares o que perfaz 500 euro/mês, destas despesas terá um custo directo que não ultrapassa os 50 euros. O resto será suportado por todos nós.
Segundo os últimos Censos, mais de dois milhões de portugueses são crianças ou adolescentes e outros dois milhões estão reformados, 700 000 estão desempregados, cerca de 100 000 estão no activo mas são doentes, então quantos sobram para pagar a factura? A agravar as contas a OCDE diz que dois milhões são pobres e que Portugal é dos países em que o fosso entre pobres e ricos mais se alargou. Por essas e por outras uma mãe inventou uma doença grave oncológica à filha e posteriormente a sua morte, fez peditórios, extorquiu dinheiro, mas felizmente a criança está viva e é saudável.
A cor do dinheiro
Para combater a crise o governo decidiu-se por diversas medidas, a maioria adiadas para 2009 (excepto a que diz respeito à banca) e de eficácia duvidosa. Contudo a criação do fundo imobiliário deve ter deixado a ausente Manuela Ferreira Leite ruída de inveja, pois pode permitir resolver o grave problema do crédito (à habitação) mal parado, acabando com os abutres que pairam sobre pessoas com “a corda na garganta”. Na realidade o fundo imobiliário vai permitir de forma transitória passar de proprietário devedor e penhorado a arrendatário, evitando a perda total do imóvel. A questão que se coloca é se a medida vem em socorro dos pobres que fizeram mal as contas ou da banca, pois a sua vocação não é o betão mas sim o lucro.
Por: João Santiago Correia