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«O Vale do Côa é uma experiência feliz e inclusivamente um modelo para outros países»

Cara a Cara – Entrevista

P – O que acha do sentimento de desilusão que existe em relação às gravuras do Vale do Côa?

R – Não sinto que haja uma desilusão geral em relação às gravuras do Vale do Côa. O parque já existe há dez anos e as descobertas foram feitas em meados da década de 90. Fizemos muito trabalho, portanto não entendo que haja desilusão. Em relação ao museu, esse é um problema conhecido. Começou por se fazer um projecto que foi abandonado por ser muito caro, entretanto fez-se outro projecto, correram os prazos do concurso e esperamos dentro de dois anos ter o museu a funcionar. Portanto estamos dentro dos prazos previstos. O museu poderá aumentar o afluxo de visitantes, permitindo que as pessoas visitem as gravuras.

P – O que se pode fazer para contrariar essa ideia?

R – Não sinto que haja desilusão. Pelo contrário, as pessoas que estão a trabalhar no Vale do Côa continuam a trabalhar com gosto, na medida em que as descobertas vão-se sucedendo e, portanto, não percebo porque é que se fala em desilusão.

P – O que é que correu mal nestes últimos dez anos para atrasar tanto a construção do museu?

R – O processo do museu foi demasiado lento, porque é uma estrutura complexa e o primeiro projecto, que andou alguns anos a ser estudado, foi depois abandonado. Foi abandonado pelo Governo legítimo do país, que propôs um outro sítio e portanto nesse local os prazos estão a ser cumpridos. Agora se me disser que as pessoas gostariam de ter no local um museu já feito e muitas mais coisas abertas ao público, isso então teríamos que viver num outro país que não o nosso. Temos que ter limite e fazer aquilo que podemos, somos um país com pouco dinheiro neste momento e, apesar de tudo, no Vale do Côa ainda se investiu bastante, na medida em que é uma região do interior onde tudo foi criado de raíz. Portanto, acho que o Côa é uma experiência feliz, bem conseguida e, neste momento, é inclusivamente um modelo para muitos países do mundo.

P – Acredita que o museu será a “tábua de salvação” do Vale do Côa ou será preciso mais? O quê?

R – O museu não é nenhuma “tábua de salvação” para o Vale do Côa, porque o vale não está propriamente ameaçado. O museu é uma estrutura que vai permitir ampliar o número de visitantes, tornando possível mostrar a um maior número de gente aquilo que é verdadeiramente a arte do Côa. Porque é impossível mostrar todos os sítios do Vale do Côa, como também é impossível as pessoas entrarem, hoje, nas principais grutas paleolíticas. O vale é um sítio importantíssimo onde houve um investimento importante e público, para além de um grande investimento de trabalho. E é necessário que o museu faça a síntese de todo esse trabalho, pois isto não se faz de um dia para o outro.

P – Quais são as suas expectativas em relação ao Vale do Côa?

R – Relativamente ao turismo para a região, é evidente que o Vale do Côa é um dos sítios fundamentais para dinamizar o concelho de Vila Nova de Foz Côa, que, nestes últimos anos, tem perdido população. Em relação à arqueologia, é neste momento um dos sítios pioneiros em Portugal. Aqui faz-se uma investigação de ponta e temos grandes perspectivas de trabalho num futuro próximo, na medida em que têm sido feitas descobertas muitos importantes.

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