Nascem em viveiros e multiplicam-se alimentados por gente sã. Nascem em produção seriada, com matrículas, códigos de barras e são associativos. Os trogloditas pagam cheques uns aos outros, cumprem ordens disformes, aceitam tarefas nefastas, executam a mãe e os amigos. São solidários com o chefe e tornam-se imprescindíveis na criação do pandemónio. Os trogloditas não têm cor, não têm vocação, não são inteligentes, não fazem escolhas. Os trogloditas correm para um destino doente, sem interrogações. Nos viveiros convivem os palermas, peixe mais pequeno, sem dentes, arrastando-se nos fundos, os burros ambiciosos, peixe luzente, sempre de escamas limpas, com subidas à tona e fugas rápidas. O troglodita é o rei destes viveiros, pois ele manda nos outros todos. Um Conselho de Administração nefasto rodeia-se de trogloditas e estes fazem assessores meia dúzia de palermas. Assim tentam sobreviver à fúria da dinâmica, à força da evolução. Travam, impedem, proíbem, perseguem, executam favores e cobram fidelidades. Nada mais que sobreviver, nada que nos traga um benefício público. Os trogloditas estão na polícia, na saúde, nas escolas, na justiça, vestindo-se de todos os intervenientes do sistema. Até um pequeno troglodita pode tornar a vida alheia mais difícil, mas o fundamento da resistência é não desistir. Combater sempre e de modo firme esta praga, estes “não fui eu”, estes “não há”, estes “não sei”.
Por: Diogo Cabrita