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«O trabalho dos enfermeiros a recibos verdes é crucial para o bom funcionamento da ULS da Guarda»

Cara a Cara – Alfredo Gomes

P – O SEP continua a denunciar a existência de falsos recibos verdes na Unidade Local de Saúde da Guarda e esta semana voltou a fazer uma conferência de imprensa para falar do assunto. Porquê?

R – Quisemos sinalizar mais uma vez a questão dos recibos verdes na ULS da Guarda. Esta é uma questão “mais velha que a Sé de Braga”. Temos 46 enfermeiros a recibo verde nesta instituição, alguns há mais de quatro anos. Não compreendemos como é que a ULS gasta mais dinheiro com estes enfermeiros a recibo verde do que se os tivesse ela própria contratado. Estes enfermeiros não têm qualquer vínculo à instituição, visto que trabalham para uma empresa privada.

P – É um problema que já se arrasta há muito tempo?

R – Sim. Já abordámos este problema com a ARS do Centro, o Ministério da Saúde e a ULS. Todos assumem que isto é para resolver e, no entanto, já é o terceiro Conselho de Administração com que andamos a bater no assunto e continua tudo na mesma.

P – Esta questão leva a que alguns jovens enfermeiros optem por ir para outras regiões ou até por emigrar?

R – Sim, porque esta situação não dá segurança de emprego nenhum. Estes jovens enfermeiros estão a trabalhar ao dia. Não têm férias, não têm subsídios de férias, nem folgas. Se trabalham, ganham, se não não ganham e o que nos preocupa é que estes enfermeiros são necessários porque se não estiverem na ULS há serviços que têm que encerrar. Eu só pergunto porque é que a ULS e a tutela não resolvem esta situação de uma vez por todas, até porque reforço que fica mais barato. Estão a pagar mais hoje à empresa por cada um destes enfermeiros do que pagariam se os tivessem contratado diretamente. Não conseguimos compreender como é que isto se mantém.

P – Têm, portanto, dialogado com o CA?

R – Temos. A 20 de dezembro tivemos uma reunião com a ARS, onde nos foi assumido que o assunto era para resolver o mais rápido possível. Uns dias depois estivemos na Guarda até com uma concentração e falámos com o presidente do CA e na altura até saímos bastante contentes dessa conversa porque foi assumido que isto era para resolver no mais curto espaço de tempo. No entanto, já estamos em maio e a situação continua.

P – Ponderam reforçar as formas de protesto?

R – Claro. Estes colegas trabalham para uma empresa e assim que eles queiram desenvolver o que quer que seja, dentro da legalidade claro, estaremos cá para os acompanhar. A nossa parte está feita, de demonstrar à população e à tutela que, em tempo de crise, se está a gastar mais dinheiro com estes enfermeiros do que o que se gastaria se a situação estivesse normalizada. Por isso vamos manter esta pressão. Sou delegado sindical desde 1991 e sempre me lembro de ver os recibos verdes na Guarda. Já é uma questão tão velha que não sabemos o que havemos de fazer mais, mas claro que está sempre em cima da mesa desenvolver outras iniciativas, desde que os enfermeiros assim queiram.

P – Esta situação também ocorre noutros pontos do país?

R – Sim. Há uns anos havia várias situações semelhantes. Neste momento há menos. Temos três ou quatro instituições que ainda têm enfermeiros a recibos verdes. No entanto, essas instituições estão já numa fase de resolução, por exemplo, em Aveiro ou na Figueira da Foz. Alguns desses colegas já assinaram contrato com a instituição. Só aqui na Guarda é que se mantém exatamente no ponto de partida e é mais uma razão para continuarmos a pressão porque não percebemos porque é que a Guarda é diferente dos outros. É uma capital de distrito, é uma instituição até maior do que algumas das outras e não percebemos porque a situação não se resolve.

P – Há algum serviço na ULS da Guarda que seja mais afetado por esta questão?

R – Sim, o grosso destes colegas estão nas medicinas, que é onde a integração é mais fácil e não são serviços tão específicos e pelos dados que temos sabemos que há alguns que, caso estes colegas, de hoje para amanhã, não se apresentassem, não tinham enfermeiros para trabalhar. Tanto é que neste momento com o aumento de 35 para as 40 horas, o que se previa era que aumentassem o número de horas de cuidados de enfermagem. Contudo, o que acontece no serviço é que os turnos têm cada vez menos enfermeiros. Há turnos em que já só está um enfermeiro. Se aumenta o horário de trabalho, o que era lógico era que o número de enfermeiros fosse reforçado e isso não está a acontecer.

P – O trabalho destes enfermeiros é essencial para o bom funcionamento da ULS?

R – É fundamental e crucial. Se estes enfermeiros saírem todos, a ULS vai ter que encerrar serviços e unidades porque há aí Centros de Saúde que vivem também com a maioria destes enfermeiros e é complicado.

Alfredo Gomes

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