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O TMG aguarda-nos

Quem percorre a rua descobre, antes de mais, um “lettering” luminoso (um “P” de parque que esteve “completo” nesta última semana). No dia 24 de Abril a palavra “livre” anunciava os festejos do dia seguinte mas, sobretudo, que podia passar-se a porta que há tanto me mantinha curiosa.

Havia uma fila para entrar pela porta aberta que é o grande momento arquitectónico do TMG. Branca e sólida, aberta para outra cidade, por força do contexto. Mas foi este contexto que fez nascer na Guarda um novo corpo de cultura.

É uma arquitectura feita de lugar, betão, vidro, granito, madeira e aço. É uma obra sintética e calma, marcada por suaves vibrações, que monumentalizou um espaço sem nome. Os dois volumes enterram-se entre muros que desenham percursos e são parte integrante da paisagem retratada nos espaços interiores. Apesar de eloquente, o edifício é também introvertido, nesta sua característica de abrir vãos sobre si próprio. Há, no entanto, uma monumentalidade real no corpo de betão, semelhante à da porta branca (o meu objecto preferido… gosto da boca dos edifícios). É um volume sem pisos. Há uma escada lindíssima no interior que rasga e atravessa todo o volume na diagonal, definindo claramente a escala do corpo do grande auditório. Há janelas suicidas neste cubo mágico, desenhado para devolver à cidade a simplicidade e rudeza da uma arquitectura há muito perdida. O interior vive numa neutralidade expectante, como se as cores, as texturas e o movimento estivessem nos espectáculos que hão-de vir para lhe dar sentido. Este corpo, propositadamente “em bruto”, espera a conquista da emoção pela arte que irá acolher.

Sem saber se me era permitido, descobri no último piso um pátio que fotografa a cidade dos inícios do século XX. Agora, estou sentada na cadeira escura, a escrever sobre a mesa escura, da sala branca que é o Café Concerto. Prepara-se um pequeno espectáculo. O edifício já mexe, na sua elegância… apesar dos técnicos da Câmara beberem imperiais ao balcão. Mas o espaço suporta a nossa adaptação à sua recente existência.

Resta demolir o muro que o separa das árvores a Nascente, fazer desaparecer as construções “ambulantes” da GNR e dar jardim a este edifício. Permitir a outra porta para a cidade, criar este percurso de atravessamento que legitimará à grandiosidade da obra… que a CMG não se esqueça deste grande pormenor.

Com um programa à altura deste edifício, aguarda-se o público a quem ela pertence. A esse público peço que não desiluda, que não se esqueça que as grandes expectativas desta obra estão colocadas sobre todos nós.

Sobre a porta branca, que me intriga, falarei mais tarde, noutro contexto.

Por: Cláudia Quelhas

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