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O tininho faz falta

Nesta hora de traficância autárquica, nalguns casos de mudança autárcica, assistimos ao folclore habitual às circunstâncias desde o longínquo 1976.

Não vou ser eleito e limitar-me-ei a ser um eleitor moderadamente entusiasmado. Mas é a vida!

Também desassisto ao espetáculo quotidiano das campanhas eleitorais, com a minha pituitária inundada pelos odores “febris”, do coirato, entremeada e vinho de muito discutível qualidade. Há quem não se importe de trabalhar para uma úlcera gástrica a cada quatro anos, mas nalguns casos vem-me à memória a sempre atual frase do saudoso Millôr Fernandes: «Canalhas melhoram com o passar do tempo (ficam mais canalhas)».

Fui à Festa do Avante e recordo-me das tantas que fui desde a primeira que lá estive, no distante 1975. Trinta e oito anos depois continuo a ver uma festa dinâmica construída por gente voluntariosa e militante de causas de liberdade. Ao longo deste tempo já fui a tantas que lhe perco a conta, e continua a ser um sítio onde me sinto francamente bem e no meio de gente que tenho como boa.

Ao ouvir Sérgio Godinho lembrei-me de uma canção de luta nos anos setenta que dizia isto: «Eu hoje venho aqui falar/ duma coisa que me anda a atormentar/ e quanto mais eu penso mais eu cismo/ como é que gente tão socialista/ desiste de fazer o socialismo/ é querer fazer arroz de cabidela/ sem frango nem arroz nem a panela».

Engraçado, e já que estamos a desfilar recordações e sobre o mesmo relembro Zeca Afonso no seu “Poder Popular”: «A palavra socialismo/ Como está hoje mudada/ De Colarinhos a Texas/ Sempre muito aperaltada».

Por acaso, hoje, desapetece-me mesmo escrever porque estou a aguardar pelos resultados do eleiçoeiro “emboramente”, mas, como diria o saudoso Odorico Paraguaçu, essa figura imorredoira do “Bem-amado” superiormente interpretado pelo Paulo Gracindo, ache que mesmo mudando fica tudo na mesma, sina de um país do 25 de Abril de 1974 que desmerecia isto.

O que vou vendo traz-me à colação: «O segredo do demagogo é fazer-se passar por tão estúpido quanto a sua plateia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele» (Karl Kraus).

Vamos lá ver o que vai acontecer, mas como em tudo na vida o tininho faz sempre falta.

Por: Fernando Pereira

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