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O tempo é de provocar uma mudança política

Crónica Política

Confrontados com mais uma estratégia deste governo, fomos presenteados com a divulgação de um documento do FMI, este da “troika” estrangeira, que propõe um conjunto de medidas que, a serem concretizadas, significariam um retrocesso tal nas condições de vida da maioria dos portugueses que tornaria insuportável a nossa existência.

Desde o aumento da idade de reforma, ao despedimento de dezenas de milhares de trabalhadores da função pública, passando pela redução de salários e pensões e pela morte das funções sociais do Estado consignadas na Constituição, é confrangedor ver a “troika” nacional (PSD/CDS/PS), cada qual a tentar sacudir a água do capote, pois continuam a ser seus delegados na governação do país.

Despedimentos, diminuição de subsídio de desemprego, de salários, de pensões, a limitação da atribuição de benefícios sociais, este é o léxico liberal.

Quem faz as propostas sabe que a sua viabilidade depende da morte da lei fundamental, a Constituição, e da aniquilação de toda a resistência popular a medidas tão violentas contra a dignidade de quem vive ou viveu do seu trabalho. A gravidade do momento exige um enorme sentido de responsabilidade e não permite tempo para calculismos de médio prazo. Esse sentido de responsabilidade impõe a todos os democratas que levantem a voz pela demissão do Governo e a convocação de eleições antecipadas.

Não é tempo de tecer apologias à imobilidade política como um valor acima de todos os outros, sabendo que essa imobilidade tem como preço a instabilidade social para a maioria dos portugueses e o regresso a uma sociedade assente num paradigma de miséria e fome.

O tempo é de provocar uma mudança política que corra com os comissários do FMI do Governo, sem receio de abismos ou buracos negros. A inércia cívica é que pode comprometer o nosso futuro. O tempo corre contra aqueles que estão em cima do muro, não podemos desvincular aqueles que mantêm as opções e compromissos assumidos e fazer corresponder a prática à retórica, basta ouvirmos o porta-voz do PS para demonstrar o caminho que pretende para a saúde.

Não deixa de ser sintomático que na nossa praça se discutam as personagens políticas e esqueçam as opções das várias personagens que integram a gestão autárquica, seja ela da responsabilidade socialista ou social-democrata. Alguns tentam sustentar a argumentação na subtileza dos candidatos proveniente da sociedade civil, porém alguns órgãos de comunicação social e alguns fazedores de opinião caseira deveriam debruçar-se na teia de interesses instalados na nossa cidade.

O PS é o responsável pela inércia política na implementação de um Plano Diretor Municipal, ao serviço dos munícipes e que ponha em causa os interesses dos especuladores imobiliários. Aqueles que votaram a favor das empresas municipais, argumentam neste momento pela sua extinção. Enquanto eleito pelo PCP na Assembleia Municipal da Guarda votei contra a constituição da Culturguarda EM, pois não sobrelevou as responsabilidades do poder central e local, pelo contrário, esbateram-se com a engenharia financeira de alienação de património público, sem uma linha estratégica para a cultura. Mais, a não implementação de uma programação municipal articulada entre os diferentes espaços culturais do nosso concelho que receberam ou recebem financiamento de dinheiros públicos.

A fruição cultural é um desiderato constitucional e neste sentido é necessário e fundamental uma política capaz de dar resposta também nesta área. Basta de continuamos a assistir a julgamentos de moralidade sobre os salários dos trabalhadores da administração pública e em particular dos trabalhadores das empresas municipais.

Caros leitores, enquanto ativos decisores políticos, dispõem de vários instrumentos de participação, o direito de manifestação e de indignação numa democracia mais participativa também ele é fundamental.

Politicamente não devo, nem quero, julgar os vários atores políticos pela sua vida pessoal. O meu julgamento assenta na falta de coerência daqueles que votam num sentido num órgão político e noutro patamar político votam ao lado do seu partido as alterações às leis laborais, pela extinção das freguesias, por ter votado a favor pela implementação das portagens, votado contra o aumento do salário mínimo ou outras medidas que tem agravado as condições de vida de quem trabalha.

Caro(a) leitor(a), é fundamental que seja coerente com as decisões que assume, sejam pela inércia, sejam pela mudança política. A alternância demonstra o caminho que nos trouxe até aqui. Espero por si na próxima ação de luta, esta bem perto, na nossa cidade, no próximo 16 de fevereiro.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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