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O retrato das novas cidades

Mêda, Sabugal e Trancoso vistas à lupa do INE

A Guarda é desde a semana passada o distrito das oito cidades. À Guarda, Pinhel, Seia, Gouveia e Vila Nova de Foz Côa, elevada àquela categoria em Julho de 97, juntaram-se na última quinta-feira a Mêda, o Sabugal e Trancoso. Contudo, estas distinções, sinónimo de um aparente estatuto superior para os seus habitantes, não se traduzem geralmente em benefícios directos para as respectivas localidades. No caso do distrito guardense, caberá recordar que estas promoções acontecem numa altura de lenta e inexorável desertificação humana, podendo a classificação de cidade contribuir para o acelerar de fenómenos de migração interna e de abandono do mundo rural.

Segundo os Censos de 2001, o distrito da Guarda cresceu em oito mil habitantes na última década, aproximando-se dos 180 mil habitantes, mas 28 freguesias passaram a ter menos de cem residentes, mais doze que em 1991. A capital do distrito emerge como a cidade-charneira e foi a única das oito cidades a aumentar de população, registando mais de seis mil residentes que em 1991, o que perfaz um total concelhio de 44 mil habitantes. À sua volta, a grande maioria dos concelhos vizinhos perdeu população, tendo mesmo o Instituto Nacional de Estatística (INE) registado a propósito que os maiores decréscimos populacionais verificados na região Centro aconteceram em Seia (-2.189 habitantes), Sabugal (-2.047) e Pinhel (-1.753). O que é sintomático das transformações verificadas com alguma acentuação ao longo da década de 91-2001, nomeadamente no que respeita aos níveis migratórios das freguesias para as sedes de concelho e destas para a capital do distrito e outras cidades do litoral. Por isso, a Guarda foi o único concelho do interior Centro com saldo migratório superior a dez por cento.

Pouca indústria, escolas a fechar e muito património

Já os indicadores relativos às famílias revelam que a cidade mais alta obteve a maior subida, com mais 30 por cento em relação a 91, enquanto o Sabugal conheceu a maior descida com menos 11 por cento das famílias residentes nesse. No entanto, a dimensão média continua a baixar, sendo de 2,4 elementos na Mêda e Sabugal e 2,8 em Seia. No capítulo dos edifícios e alojamentos, o INE apurou mais de 104 mil edifícios, dos quais resultam cerca de 119 mil alojamentos, com a particularidade de Guarda e Trancoso apresentarem crescimentos superiores a 10 por cento nos edifícios e alojamentos, área onde a capital do distrito conheceu um autêntico surto, com mais 21 por cento. Uma coisa é certa, as novas cidades são das mais pequenas do país, destacando-se Trancoso com 3.100 habitantes, seguido do Sabugal (2.174) e da Mêda (2.090). Curiosamente, a vila de Manteigas é maior em termos populacionais que estas cidades, com 3.373 residentes. Posto este cenário demográfico, a comparação em termos de indústria também não é animadora para a maioria das novas cidades do distrito. Com excepção Trancoso, cujo longo historial de dinamismo e empreendorismo comercial lhe tem granjeado uma activa posição estratégica na Beira Interior Norte, as restantes carecem de actividades, indústrias e serviços que fixem populações. Em contrapartida, todas têm património histórico e natural para dar e vender, uma importante “tábua de salvação” em termos de desenvolvimento, e os habituais serviços públicos, também eles em risco devido à tendência de concentração da Administração Pública e à diminuição da população escolar.

É que os concelhos da Guarda, Sabugal e Trancoso foram este ano os mais afectados pelo encerramento de escolas do 1.º ciclo do ensino básico. Só naqueles três municípios fecharam 21 escolas, a grande maioria com um ou dois alunos e algumas de “morte natural”, isto é, que não têm alunos há dois anos consecutivos. O fenómeno é inexorável e vai prosseguir até 2007, altura em que o Centro da Área Educativa (CAE) estima ter desaparecido cerca de 70 por cento das escolas do distrito.

Luis Martins

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