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O respeitinho

Editorial

1. O despacho do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, de proibir o sector público de assumir compromissos de despesa pode paralisar todo o sector público, e de certa forma o país. E se, porventura, nalguns serviços ou instituições tem sido possível contornar o teor do despacho e resolver os problemas do dia-a-dia com alguma criatividade, a maioria dos serviços obviamente que não têm facilidade em executar as suas funções e obrigações sem assumir compromissos com fornecedores.

Estranhamente, e apesar de ser um pouco transversal à máquina do Estado, foram poucos os dirigentes que assumiram uma posição de contestação ao despacho exarado por Gaspar – claro que ouvimos as reclamações dos sindicatos e das comissões de trabalhadores, mas a maioria dos dirigentes de instituições públicas preferiram calar-se do que afrontar o ministro das Finanças.

Mas a maré fétida que invadiu a atividade política e a vida das instituições públicas em relação à proibição de novos compromissos teve honrosas exceções. À escassez de reações institucionais a uma suspensão irracional responderam aqueles para quem a voz não pode ser silenciada, ainda que poucos. O medo que Gaspar vai incutindo não pode chegar a todo o lado. A avalanche dos despejos quotidianos dos servidores obedientes do Governo merece ser contrariada. Foi o que fez o reitor da Universidade de Lisboa que, em comunicado, considerou que «não há pior política do que a política do pior». Para o reitor, a medida é «cega e contrária ao interesse do país» e é preciso «resistir a medidas intoleráveis, sem norte e sem sentido». Mas a voz do reitor de Lisboa foi de facto uma exceção. O próprio CRUP, Conselho dos Reitores das Universidades Portuguesas, distanciou-se de Sampaio da Nóvoa e optou por procurar uma solução corporativista junto do ministro da Educação. É assim em Portugal, sempre foi assim, perante situações de aperto e dificuldade, cada um tenta salvar o próprio coiro e o do outro que se lixe.

Também o presidente do Politécnico da Guarda se insurgiu contra o congelamento do país decretado por Gaspar. Constantino Rei foi outra das poucas vozes que se ouviu por estes dias a dizer não à “suspensão” da atividade pública e à paralisação de inúmeras estruturas estatais condenadas a trabalhar parcialmente. À contenção da maioria, subserviente e sempre medrosa, acostumada a negociar no conforto dos gabinetes ministeriais onde fazem os pedidos de favor, distante dos holofotes e do juízo público, contrastou o gesto de dignidade cívica de alguns que ainda acreditam que é possível e faz sentido levantar a voz em defesa do interesse comum.

O despacho de Gaspar foi a mais abrupta das respostas ao chumbo do Constitucional e merecia todas respostas em conformidade. Estranhamente, poucos tomaram a palavra para o contestar.

2. Enquanto Álvaro Amaro se faz à estrada, sem querer saber da providência cautelar que a “revolução branca” vai interpor contra a sua candidatura, e José Igreja aguarda o melhor momento para olear a máquina, Virgílio Bento continua na dúvida sobre se deve ou não entrar na corrida. O candidato preterido pelo PS, e que agora quer candidatar-se como independente, continua a conversar com Manuel Rodrigues, o preterido a candidato pelo PSD, para uma estranha coligação entre os desagradados do PS e a ainda concelhia do PSD. Se a falta de credibilidade dos nomes apontados para a lista de Igreja dão alento a Virgílio Bento, a fuga de alguns fiéis de Rodrigues para as fileiras de Amaro deixam preocupada a “coligação”. Os candidatos dos dois maiores partidos estão definidos, mas as autárquicas na Guarda ainda prometem fazer correr muita tinta.

Luis Baptista-Martins

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