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O regresso do Festival de Teatro da Guarda

Dez espectáculos, uma exposição, projecções de vídeo, café-concerto e um colóquio ao programa até 14 de Outubro

O Festival Internacional de Teatro da Guarda começa este ano no papel. Uma exposição de teatrinhos dos séculos XVIII a XX, na Biblioteca Municipal até ao final do mês, abre segunda-feira o pano da XVª edição e antecipa vinte dias de uma programação ecléctica onde o teatro irá de par com projecções de vídeo, café concerto, um colóquio e uma acção de formação. Mas o salto para o palco só vai acontecer a 20 de Setembro, com a peça “Gestos para Nada”, de Dinarte Branco e Nicolau dos Mares. Até lá, o valioso acervo de A Tarumba – Teatro de Marionetas propõe-nos uma viagem pelos segredos e encantos da arte dramática através de autênticas réplicas em papel dos verdadeiros teatros.

O festival, organizado anualmente [não se realizou em 2003] pela Câmara da Guarda e o grupo Aquilo Teatro, conta com a participação de dez companhias portuguesas e espanholas que trazem à Guarda trabalhos bem distintos. A organização assume que esta edição dedica uma atenção especial à comédia, mas também não esquece o experimentalismo e o drama, num total de dez espectáculos de qualidade que podem ser vistos no auditório municipal até 14 de Outubro. E para começar nada melhor que uma reflexão sobre o teatro, os actores, autores e o público com a peça “Gestos para Nada”, de Dinarte Branco e Nicolau dos Mares (Portugal). Esta produção está em cena no dia 20 e é inspirada nos originais “Pervertimento” e “Outros gestos para nada”, do dramaturgo e encenador castelhano José Sanchis Sinisterra, na sua procura do «grau zero do teatro». No dia seguinte, o auditório municipal recebe a perturbadora produção “Nos cabelos da loucura”, da Associação KARNART (Portugal), enquanto que a 22 sobe ao palco o primeiro grupo espanhol participante deste festival. Trata-se da Companhia Yllana, que apresenta “666”, uma comédia macabra e irónica em torno do “número da besta” e de um corredor da morte. Um espectáculo que vai surpreender pela sua irreverência e hilariedade.

A 23 de Setembro, a companhia portuguesa Magníficas Produções traz “Pedras Rolantes”, que é simultaneamente uma peça sobre uma banda de música e um concerto ao vivo. Um dia depois muda-se de registo com “Sudwestern”, de Edgar Pêra, e entra-se num cine-concerto que aborda a relação entre o universo dos fadistas portugueses e o dos cowboys norte-americanos do século XIX. Em palco, pode contar com música ao vivo, projecções em formato vídeo-jammimg e personagens de carne e osso. A espanhola Spasmo Teatro chega dia 25 com o espectáculo “Extracelestes”. Aqui, o humor é um recurso sem palavras e brota de uma mímica carregada de ironia mordaz. Segue-se “Trifásico”, de Paulo Matos (Portugal), uma “stand up comedy”que fala de todos nós, e “Talvez Camões” (dia 27), pela Companhia Chapitô (Portugal). Trata-se de uma paródia à volta de Camões e dos Lusíadas que brinca com todas as incertezas históricas que existem acerca da sua vida. No dia seguinte a comédia dá lugar ao teatro de marionetas e ao conto de tradição popular, através de “Rapatú”, uma produção do grupo Tanxarina Títeres (Espanha). Os espectáculos de teatro terminam dia 29 com a peça “Encerrona”, de Pepe Viyuela (Espanha), uma reflexão sobre o quotidiano desde a perspectiva do palhaço. O bilhete diário custa três euros, enquanto o preço da entrada permanente é de 15 euros.

Colóquio, cinema e café-concerto

O teatro é ainda o pretexto para uma oficina de formação de construção de teatrinhos de papel (dia 22). Luís Vieira (A Tarumba) ensina como se faz às crianças dos 8 aos 12 anos, na Biblioteca Municipal. A iniciativa tem inscrição obrigatória e está limitada a 15 participantes. Em Outubro, o festival vira-se para o cinema com o ciclo “Filmes e Teatro” na Mediateca VIII Centenário. Em cartaz estão “A Palavra”, de Carl Dreyer (dia 4), “Gata em Telhado de Zinco Quente”, de Richard Brooks (7), “Ser ou Não Ser”, de Mel Brooks (8), e “Teatro de Sonhos”; “Se Podes Olhar Vê, Se Podes Ver, Repara”, de Rui Simões (12). Todas as sessões têm entrada livre.

Para dia 14 está agendado um colóquio na Biblioteca Municipal subordinado ao tema “Escrever para Teatro em Portugal” com a participação de Jacinto Lucas Pires, Pedro Eiras e Jaime Rocha. No entanto, a grande novidade da edição deste ano do Festival Internacional de Teatro da Guarda é o espaço café-concerto proporcionado diariamente, após os espectáculos, na sede do Aquilo, no Largo do Torreão. Trata-se de um ponto de encontro alternativo e descontraído, onde públicos e artistas serão convidados a partilhar gostos e saberes, num ambiente animado por pequenos espectáculos de carácter informal e manifestações artísticas diversas e abrangentes. O café-concerto tem uma programação regular durante os dez dias do Festival, sempre a partir das 23 horas, e é de entrada livre. O projecto musical Buster Biz (dia 20) tem direito de abertura, mas seguir-se-ão os G-Ward (22), Chuchurumel (23), “Movement Warriors” (24), Tra$h Converters (25), Luís Andrade e João Louro (26), a performance de Helena Botto (27) e o duo Marcos Cavaleiro e Pedro Lucas (29). Outra das propostas envolve uma banda sonora de Victor Afonso e as performances de Teresa Oliveira (21), Luciano Amarelo (23) e Ana Dinis (28).

Luis Martins

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