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O regresso da agricultura

Numa altura em que parece que os políticos descobriram a agricultura, depois de a terem esquecido deliberadamente durante os anos 80, importa analisar que tipo de agricultura se pretende para o nosso país. De facto parece ser difícil fazer agricultura sem agricultores e adequada investigação agronómica, uma vez que à medida que a agricultura foi sendo abandonada as instituições de investigação agronómica foram praticamente desmanteladas. É urgente voltar a apostar na investigação agronómica para termos uma agricultura eficiente, não é possível importar o conhecimento ou modo de fazer agricultura de outros países para o nosso.

A juntar a esta questão, na semana passada o Parlamento Europeu decidiu dar aos Estados Membros o poder de decisão de cultivar ou limitar os organismos geneticamente modificados (OGM), os vulgares transgénicos. Prevendo que, para além dos motivos ambientais e de saúde que têm de ser avaliados pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, os países possam também invocar outros motivos locais, como a resistência aos pesticidas ou a manutenção da biodiversidade local, entre outros. Atualmente, é autorizado na UE o cultivo de dois OGM: milho MON810 e batata Amflora. Em 2009 foram cultivados 94.800 hectares de milho MON810 em cinco países: Espanha, República Checa, Portugal, Roménia e Eslováquia. A batata Amflora é atualmente cultivada na Suécia, Alemanha e República Checa.

Para perceber esta questão e as suas implicações talvez se deva olhar para a Índia, país que foi obrigado pelo Banco Mundial a globalizar-se nos anos 90. As sementes que os agricultores indianos usavam há muitos séculos foram patenteadas pelas multinacionais e os agricultores foram assim obrigados a utilizar as sementes transgénicas altamente dependentes de fertilizantes e pesticidas. Os subsídios estatais para o algodão foram cancelados e os custos de produção aumentaram drasticamente. Atualmente o que se verifica: muitos agricultores perderam as suas quintas, a agricultura biodiversa da Índia passou a ser uma monocultura de algodão transgénico, os agricultores estão altamente endividados (pois têm que pagar as sementes transgénicas mais os fertilizantes e pesticidas), e estima-se que a cada 30 minutos um agricultor no desespero das suas dívidas comete suicídio bebendo literalmente os próprios pesticidas. O próprio príncipe Carlos de Inglaterra disse que os transgénicos «eram o maior desastre ambiental de todos os tempos».

Fernando Felizes (http://nulliusinverba-ff.blogspot.com/), carta recebida por email

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