«Precisamos de uma moral pública: sem obrigações, os nossos direitos não conseguirão perdurar no tempo (…) Se queremos chegar longe, temos de ser capazes de dar pequenos passos».
Estas citações do social-democrata alemão Helmut Schmidt, antigo líder do SPD, foram utilizadas por Rui Rio no discurso de encerramento do Congresso do último fim-de-semana. E servem para ilustrar o tempo e o modo que o novo presidente dos sociais-democratas pretende imprimir no PSD. O tempo é de mudança, de reposicionamento ao centro face ao deslocamento para a direita, promovido por Passos Coelho. O modo é o de uma social-democracia com o espírito reformista que o fundador Francisco Sá Carneiro cravou em diversos documentos e discursos.
A invocação do histórico político alemão é sintomática do que Rio pretende. É também consonante com o perfil do novo líder do PSD, que estudou num colégio alemão e que tem no rigor germânico uma das suas características políticas. Mas, mais do que isso, Rio centrou a sua intervenção no aspeto social, demonstrando que o PSD precisa de recuperar o eleitorado perdido, desde logo os mais pobres e a classe média. Interclassista, nos últimos anos o PSD alienou parcelas relevantes de eleitores sem os quais dificilmente poderá regressar, pelo menos, à casa dos 30% nas sondagens.
Será esse o primeiro grande desafio de Rio: colocar o PSD a subir nas sondagens e a recuperar terreno face ao PS. É que, em 2019, haverá três eleições e o tempo para afirmar uma alternativa começa a escassear. Daí que retomar o ímpeto reformista a que Rio se propõe é fundamental para captar eleitores e – outro desafio fundamental que o próprio sinalizou no discurso – para abrir o partido à sociedade civil, trazendo novos quadros para o PSD. Só assim poderá disputar, ao centro, um eleitorado que estava cada vez mais adstrito ao PS.
Rio encontra um partido em território desconhecido e perdido em combate. Sem propostas alternativas nem capacidade de ser parte da solução, o PSD tornou-se parte do problema que mantém o país preso na incapacidade de se auto reformar.
Mas, ao enunciar um conjunto de áreas (Segurança Social, educação, saúde, justiça, sistema eleitoral, descentralização e reforma do Estado) nas quais está disposto a dialogar e a procurar entendimentos alargados, Rio está não apenas a reposicionar o PSD em termos ideológicos, mas também a recolocá-lo no centro da ação política. Um partido sem causas é um partido que arrisca a irrelevância.
Passar a ser relevante é, portanto, o mote do novo presidente dos sociais-democratas. Ver-se-á se, chegado o momento de apresentar propostas concretas – desafio já feito pela secretária-geral adjunta do PS –, Rio será capaz de materializar o que, para já, são meras demonstrações de vontade. Certo é que, sem vontade política, a política é um vazio.
Por: David Santiago