Deixo a análise profunda das medidas apresentadas esta terça-feira pelo PS aos especialistas em economia. Há ali, felizmente, muita coisa para se discutir, o que é meio caminho andado para deixarmos a política de casos e podermos falar do futuro do país. É um bom ponto de partida para a oposição e para o governo. E um passo que o PS levou demasiado tempo (anos!) a dar: só agora é que o maior partido da oposição esqueceu os lamentos do PEC IV e de chorar os idos de 2011.
Esta mudança política é tão relevante quanto o pacote económico apresentado, porque um dos maiores erros do Partido Socialista – quer dos cegos herdeiros de Sócrates, quer das duas lideranças que se sucederam à derrota de 2011- foi nunca ter lidado bem com o falhanço da estratégia pós 2008, nunca ter feito o mea culpa dessas políticas e continuar a suspirar pelo PEC IV, que não salvaria o país de coisa nenhuma nem o PS da derrota certa.
Mário Centeno protagonizou um dos momentos mais sérios de viragem política do PS. Mas não vai ser fácil que o partido perceba e subscreva todas estas propostas. Lamentar o chumbo do PEC IV era muito mais fácil.
Não sei se a mensagem que Mário Centeno apresentou é seguida pelas figuras mais nervosas do PS, que nunca deixaram de viver em 2011. Mas se o PS quer ir a algum lugar nas legislativas que se aproximam tem que fazer deste programa o seu discurso central.
Sair do PEC IV foi a melhor coisa que aconteceu ao PS em muitos anos. Mas foi preciso um grupo de economistas – com vários independentes, onde Centeno se destaca pelo pensamento liberal – para dar esse passo. Como é que isso vai ser conciliado com uma bancada parlamentar da velha guarda e uma série de figuras que acham que tudo o que o PS fez entre 2009 e 2011 foi certo é que não se está a ver.
Por: Ricardo Costa
