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O pica pau amarelo

Saliências

O fascínio das crianças incomoda os pais preguiçosos. A imaginação das crianças atrapalha as balizas do comportamento. As inconveniências deixam-nos envergonhados. As crianças possuem esse cimento da espontaneidade e da curiosidade que nos leva aos limites. Por em causa o reduto final da autoridade, o momento ultimo das certezas e dos princípios, trazendo aquele sorriso nos lábios, aquela cara angélica, naquele corpo tão pequeno, é desconcertante.

As histórias de crianças também estão cheias de episódios violentos como os infligidos ao lobo mau. Alimentam-se de incríveis barbaridades de que os meninos riem e recordam com agrado. Por vezes as histórias do capitão gancho derrotado pelo Peter Pan só terminam com humilhação, com crocodilos a morder-lhe o rabo, e outras brutalidades. É a gargalhada máxima. Um crescendo de maldades leva ao ódio da personagem e depois um clímax de vingança permite suportar tudo e desejar mais. Os lugares violentos do pica pau amarelo fascinam-me e entretenho-me a rever as histórias em busca de outra solução. Claro que não descubro a fórmula, destino reservado a alguém especial, mas o sucesso do Valdemor, “aquele de quem não se pode dizer o nome” vem-me mostrar como a narrativa infantil moderna também tem balizas rígidas. Seria um interessante debate sobre a ficção e o fantástico.

Por: Diogo Cabrita

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