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O Parque da Saúde

Quebra-Cabeças

Segundo dizem os responsáveis locais do PSD, sem mais esclarecimentos, o novo hospital da Guarda não pode ser construído no Parque da Saúde por “motivos técnicos”. Este é sempre um óptimo argumento para apresentar num país com índices de literacia tão baixos como os nossos, sobretudo em matérias de carácter técnico ou científico. Fala-se em “razões técnicas” e acaba logo a discussão. É como se nos dissessem “é assim e pronto”, ou “não vale a pena pedires uma explicação pois não irias entendê-la”.

Ora acontece que há muitas e boas razões, algumas delas certamente de carácter técnico, para se optar pelo Parque da Saúde para a construção de um novo hospital. Desde logo por razões económicas, já que não será necessário comprar ou expropriar terreno, e as debilitadas finanças da Câmara Municipal da Guarda (e indirectamente as do país) agradecem. Depois, porque o local já está destinado à Saúde e no nosso inconsciente, com ou sem razão, é o sítio onde preferimos vê-lo. Depois ainda porque é um espaço que, a construir-se o hospital noutro sítio, pode vir a tornar-se num problema, perdida que seja a sua actual utilidade. Finalmente porque, por uma variedade de motivos, alguns dos quais certamente técnicos, teríamos hospital novo mais depressa do que se fosse escolhido outro local.

Mas o Ministério da Saúde acha que não e prefere, por motivos técnicos, outro local. Deveria clarificar as suas razões e submeter à apreciação pública esses motivos. É que, por um lado, pode acontecer não sermos tão burros como isso. Pode até acontecer que haja alguns entre nós, certamente poucos, que percebam as subtilezas e profundidades dessas objecções técnicas e possam, quiçá, desmontá-las. Ou então pode ser que seja mesmo verdade, por exemplo por haver minas de urânio desactivadas mas potencialmente perigosas no perímetro do Parque da Saúde – mas aí seria necessário responder a muitas perguntas desagradáveis. Essa clarificação é urgente e poderia resolver de uma vez a questão e não vejo razões para se não fazer.

Não vejo razões mas adivinho uma: a razão técnica é de técnica financeira e resume-se a não haver dinheiro para pagar a despesa. Mantendo a verdadeira razão no segredo dos deuses, ou adiando a sua revelação, vai-se ganhando tempo ao mesmo tempo que se deitam as culpas para o bode expiatório mais a jeito: a Câmara Municipal da Guarda.

Por: António Ferreira

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