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«O papão comunista já desapareceu»

O cabeça de lista pelo círculo eleitoral da Guarda, João Abreu, teme que a abstenção possa aumentar

Os cartazes e os “outdoors” há muito que estão colocados; os panfletos, autocolantes e bandeirinhas estão na mão e a música já se faz ouvir das colunas improvisadas. Tudo está a postos para o primeiro dia de campanha. A caravana comunista saiu da Guarda, perto das 15 horas, em direcção ao vale do mondego: Chãos, Misarela, Aldeia Viçosa, Vila Cortês do Mondego, Porto da Carne, Cavadoude, Maçainhas, Cubo e Chãos. Nem o frio, nem a neve, impediram que a comitiva da coligação PCP/PEV, encabeçada por João Abreu, começasse a sua luta política. Uma campanha tradicional, sem grandes brindes ou ofertas, sem comícios, que assenta na simpatia do porta-a-porta.

«É difícil fazer campanha com tanto frio», confessa o cabeça de lista pelo círculo eleitoral da Guarda, primeiro porque «as pessoas estão recolhidas» no calor dos seus lares e depois «torna-se difícil passar a nossa mensagem». Numa tasca, em Vila Cortês, onde os mais velhos jogavam ao chincalhão a pequena comitiva entrou, distribuiu o material propagandista e bebeu qualquer coisa para se aquecer. No final, o proprietário ofereceu a despesa, pediu para que lutassem pelas reformas e ainda desejou boa sorte. «Isto demonstra que o papão comunista já desapareceu», confia João Abreu, «ainda há algum preconceito, mas a agressividade de outros tempos já se esbateu», acrescenta.

«Isto está mau» ou «são todos iguais», foram as palavras que mais se ouviram entre os populares. «As pessoas estão fartas e desiludidas», constata o candidato, já em Aldeia Viçosa, e por isso «temo que possa aumentar a abstenção nestas legislativas», adianta. Depois seguiu para aldeias com tradição têxtil, como Maçainhas e Trinta, uma das bandeiras da campanha: a crise do sector têxtil no distrito. «A liberalização deste sector pode pôr em risco o emprego de mais trabalhadores», receia João Abreu. Por isso, na passada quinta-feira, em pré-campanha por Gouveia, «apresentamos uma proposta concreta para uma Operação Integrada de Desenvolvimento», recorda. Nesse sentido, apresenta como medida de máxima urgência «o accionamento das cláusulas de salvaguarda previstas nas regras da OMC».

Porém o candidato está confiante, e acredita que «agora é para mudar a sério», à semelhança do slogan dos cartazes. Quanto à campanha, «as coisas estão a correr bem», garante o cabeça de lista, «as pessoas aceitam bem a nossa propaganda». Com esta visita ao vale do Mondego constatou ainda que «as aldeias estão muito desertificadas». Tudo porque não se apostou na agricultura familiar e não se aproveitam as potencialidades do distrito, segundo João Abreu. Através de palavras amistosas e de panfletos tentam transmitir às pessoas que «o mais importante não é mudar o governo, mas de política».

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