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O Óscar do avô Chris

Opinião – Ovo de Colombo

Por muito que se critique, os Óscares são garantia de sucesso mediático a nível mundial. E se Jennifer Lawrence foi a surpresa da noite há algumas semanas, Leonardo DiCaprio foi a confirmação do costume. Bem distante do Jack de “Titanic” (1997), o ator espalhou terror e sangue em “Django Unchained” (2012) – que ganhou dois Óscares –, mas foi novamente ignorado pelo “crème de la crème” de Hollywood. Três nomeações até à data, esquecido desde 2007. Porém, desengane-se quem o julga caso único. Por exemplo, Alfred Hitchcock nunca ganhou um Óscar (prémio carreira em 1968) e Henry Fonda só o levou para casa com o último filme “A Casa do Lago” (1981).

Falemos agora de Christopher Plummer: meio século na “gaveta” do “mainstream”. A Academia foi buscá-lo em 2010 pela ressurreição de Tolstoy “A Última Estação” (2009), mas Christoph Waltz tinha sido bom demais “Sacanas sem Lei” (2009). Hoje com 83 anos, Plummer subiu ao palco do Kodak Theatre em 2012 para agradecer o Óscar de Melhor Ator Secundário e tornou-se o ator mais velho de sempre a fazê-lo. Título que Emmanuel Riva (86 anos) lhe podia ter roubado em fevereiro. “Beginners” (Assim é o Amor) passou ao lado da corrida às estatuetas, mas foi o motor da consagração de um ator de outro tempo. Comédia dramática por excelência – romance por obrigação –, a obra junta o riso e o choro numa viagem sem retorno. A tragédia contemporânea do pai viúvo que confessa ao filho a sua homossexualidade, a somar ao cancro terminal, é o final como urgência em viver de novo.

Oliver (Ewan McGregor) é a personagem que nada pode fazer, Hal (Plummer) o que aceita essa condição. Muito real para o espetador, o filme tem como inspiração a relação de Mike Mills (realizador) com o pai.

Como seria uma conversa entre Freud e Charlot? Certamente um monólogo acompanhado: pelo menos em “Begginers”. Oliver conhece Anna (Mélanie Laurent) numa festa de máscaras, onde envergam disfarces que os deixam mais confortáveis na própria pele. O papel da obra é viajar para lá da imagem que nos chega, desafiando os nossos próprios clichés com frases que dizem muito (a muita gente). Talvez não seja fácil entrar no ritmo de “Beginners”; afinal a morosidade de uma relação fragmentada não nos apressa a reconstruí-la. O presente é efémero. Mais tarde vem a realidade. E com ela os fantasmas que julgámos ter vencido.

Sara Quelhas*

* Mestranda em Estudos Fílmicos e da Imagem (Mestrado em Estudos Artísticos) na Universidade de Coimbra

Christopher Plummer em “Beginners” (2010)

O Óscar do avô Chris

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