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«O objetivo principal da Associação de Basquetebol é que haja clubes para os campeonatos»

Cara a Cara – José Paulos

P – Quantos clubes estão filiados na Associação de Basquete da Guarda neste momento?

R – Estão filiados oito clubes. Há épocas em que estão mais fortes e têm masculinos e femininos, mas quando estão mais frágeis optam só por um. O Manteigas e o GDR Lameirinhas costumam ter só basquetebol feminino e depois há o Trancoso, o Celorico Basket, o Club Camões de Gouveia, o Guarda Basket, o Núcleo Sportinguista da Guarda e o Sabugal Mais. Já tivemos mais clubes, mas menos que estes nunca aconteceu. O ano passado participou o Foz Côa e há outros, como o Seia Basket, que jogam com frequência. As dificuldades são cada vez maiores e os clubes, por vezes, não conseguem arrancar.

P – A tendência nos últimos anos tem sido para esse número aumentar ou diminuir?

R – A Associação de Basquetebol da Guarda (ABG) tem tido em média 320 atletas. Os clubes têm-se mantido, pelo menos os necessários para ter campeonatos (quatro equipas por escalão). Os nossos clubes são fracos – há uma ou outra exceção –, têm uma estrutura frágil e isso reflete-se na ABG. Temos equipas que são apuradas para a fase Nacional e não vão por falta de condições financeiras. Não participando no Nacional, os jogadores não evoluem tanto e isso reflete-se na qualidade do basquetebol distrital. A competição está lá em cima, mas quando damos um passo em frente temos grandes dificuldades. Há duas semanas tivemos as seleções em Albufeira e estar presente é um esforço muito grande dos clubes. A qualidade não é a que desejávamos, mas mais vale participar e melhorar do que abdicar disso. Temos tido equipas para os campeonatos e em casos excecionais, quando falta alguma equipa, há uma aproximação a Castelo Branco e vice-versa. Temos levado “a água ao moinho” e lutamos para que haja basquetebol no distrito.

P – Quais são as principais dificuldades?

R – As inscrições dos atletas são difíceis por causa dos exames médicos. Quem tutela o desporto não resolveu, não soube resolver ou então ainda não lhe transmitiram o problema. A partir dos 12 anos, os jogadores têm de fazer um exame médico e nem todos podem ir a uma clínica e os centros de saúde não assinam o boletim. Podia haver o dobro de praticantes, não só no basquetebol, mas no desporto em geral se houvesse outra forma de fazer as coisas. Apresentámos soluções noutras circunstâncias, já deixei essa opinião por escrito. Não entendo porque é que têm de fazer o exame quando no desporto escolar não há essa obrigação – é uma contradição. Há medicina desportiva em Lisboa, Porto e Coimbra e torna-se fácil, mas aqui é complicado. Isto dificulta a massificação e a prática desportiva. No basquetebol, este problema talvez seja mais acentuado porque é bastante exigente a nível técnico, ainda que depois se torne uma das modalidades mais espetaculares. Depois há outra questão. Às vezes pergunto por atletas e dizem-me que foram para outra zona do país ou para o estrangeiro. Conheço vários casos e indo um jovem vão famílias… Apercebemo-nos de cerca de meia centena de casos no distrito nos últimos anos.

P – Como tem sido o trabalho da ABG?

R – Todos os anos se recomeça. A nossa população é fluente, os jovens formam-se e vão para outras regiões e temos mais dificuldades. A nossa luta é para não ficarmos para trás. Quem está nas altas instâncias gosta muito de nos ver lá, de dizer que há mais uma associação, mas se não formos nós a puxar eles não se incomodam. Todos os responsáveis pelo associativismo distrital, seja de que desporto for, sabem isso. Esta é a nossa luta, mas se pudermos avançar mais um degrau fá-lo-emos. Quem queria estar num patamar superior se calhar não conhece o inferior e isso é sinal de que não conhece a realidade. Os nossos clubes têm experiência porque passaram por fases boas e más, o que lhes confere maturidade. O objetivo principal da ABG é que haja clubes para os campeonatos, depois melhorar e aumentar. Quando se aumentam os clubes, aumentam-se os praticantes e os escalões etários.

P – Que medidas têm sido concretizadas pela ABG para promover a prática do basquete no distrito?

R – Por um lado, os clubes organizam provas e nós colaboramos, sobretudo a nível técnico. Eles são autónomos e têm uma identidade própria, que nós incentivamos. Depois há uma prova distrital de minis da ABG, normalmente a 10 de junho. Mas, de uma maneira geral, são os clubes que organizam as atividades de promoção. Quando há uma zona que não tem basquetebol procuramos ir lá para que isso aconteça, mas não é fácil. Neste momento estamos em seis concelhos, mas em 2000 estávamos nos catorze, com cerca de 700 atletas. A ABG foi considerada a melhor do país porque era a única com basquetebol em todos os concelhos. Sabemos o que fazer, mas às vezes é impossível, pelo que a meta é estruturar aquilo que já se conseguiu para não o perdermos. A questão dos exames médicos não é alheia a este problema, assim como os jovens árbitros que formamos, mas no final do 12º ano vão embora… Conhecemos outras metas, já as tivemos em determinados momentos, mas é preciso perceber se são atingíveis.

P – Como é o acolhimento ao basquetebol no distrito? Sente que houve alterações nos últimos anos?

R – Se falarmos em público, isso varia consoante os jogos e o seu equilíbrio ou interesse… Os pais têm-se mostrado interessados, sobretudo nos escalões mais jovens, e acompanham os filhos nas provas. Também é uma questão de tempo e cultura; acontece muito nos grandes centros, mas aqui nota-se que há muito caminho a percorrer. Uma coisa é o público que assiste ao futebol, outro o que assiste a estas atividades mais amadoras. O nosso distrito, no basquetebol, está direcionado para a formação, por isso são mais os pais dos atletas a ver os jogos. Foi feito um trabalho invisível, que continua a ser feito nesse sentido. Somos muito rigorosos na disciplina, interferimos até junto dos pais. Já há uma forma diferente de ver a modalidade, antes era algo novo. Este ano os pais levaram os filhos aos treinos da seleção, o que era impensável há uns anos. Depois os moradores também têm utilizado as tabelas espalhadas pela cidade, que foi um trabalho que desenvolvemos. Somos bastante abertos, temos uma boa relação com todos os jovens do distrito, mas é uma relação de exigência em que lhes dizemos a maneira de estar no basquetebol e no desporto.

P – Quais os próximos objetivos?

R – Neste momento há um grande desafio que é desenvolver o basquetebol em Pinhel. Antes de me reformar, quero completar esse desafio e não o tenho conseguido fazer. Estamos em contactos, espero que sejam positivos e que volte a haver, pelo menos, o feminino. Penso que neste momento o basquetebol é a segunda modalidade do concelho da Guarda, a seguir ao futebol. Há cerca de 10 equipas na cidade (nos diferentes escalões) e todos os anos temos cerca de 130 jogadores.

José Paulos

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