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O novo heterónimo de Fernando Pessoa

Jerónimo Pizarro recebeu na Guarda o Prémio Eduardo Lourenço pelo seu contributo na divulgação da cultura portuguesa e da obra de Fernando Pessoa em particular

Jerónimo Pizarro recebeu na Guarda o Prémio Eduardo Lourenço, numa cerimónia integrada nas comemorações dos 90 anos do filósofo e pensador de São Pedro de Rio Seco. O galardoado, de 36 anos, é professor da Universidade dos Andes, titular da cátedra de Estudos Portugueses do Instituto Camões na Colômbia, e um grande divulgador da obra de Fernando Pessoa.

Num discurso em que a crise atual não foi esquecida, Jerónimo Pizarro disse aceitar, «humilde e e reconhecidamente, a honra deste prémio que tudo farei para merecer», sublinhando que, «neste momento, em que divido o meu o meu tempo mental e físico entre o continente europeu e o americano, sinto que estou a viver nos dois mundos em que me formei». O júri do galardão, no valor de 10 mil euros, atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI) reconheceu o papel de Jerónimo Pizarro «no desenvolvimento e divulgação dos estudos pessoanos e a sua atividade como promotor da cultura portuguesa no espaço ibero-americano». Mas o especialista em Fernando Pessoa esclareceu que tudo ficou a dever-se a Eduardo Lourenço. «Ele ensina-nos a pensar, sugere-nos caminhos, orienta-nos em tempos de labirintos e fantasmas. Sem o guia Eduardo Lourenço, eu não teria sido iniciado em Pessoa e não teria ultrapassado o limiar de um conhecimento incipiente e, em suma, não estaria nesta sala a receber este prémio», declarou.

O pensador retribuiu os elogios, dizendo que Jerónimo Pizarro é o elemento mais novo da família pessoana. «O Pessoa, além de ser muitos, deixou muitos discípulos. Jerónimo Pizarro é um deles e dos mais novos. Tem uma obra muito interessante», reconheceu o pensador, para quem o galardoado é «o mais jovem dos heterónimos pessoanos». Eduardo Lourenço também destacou o facto de ser o primeiro galardoado vindo do outro lado do Atlântico, dizendo nunca ter pensado que o prémio que tem o seu nome atravessasse o oceano. «Está feito. É a viagem do Cabral ao contrário», constatou. Mais elogios vieram da vice-reitora da Universidade de Salamanca. Noemi Dominguez afirmou que quem procura informação sobre Fernando Pessoa em espanhol «encontra sempre Pizarro, que desconfio que seja mais um heterónimo do poeta».

Por sua vez, José Barreto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, fez o discurso de elogio a Jerónimo Pizarro, sublinhando «o seu papel na divulgação internacional da cultura portuguesa», pelo que este prémio é «um valioso incentivo à prossecução da sua brilhante carreira». Contudo, o professor não deixou de lamentar

que nenhuma universidade portuguesa lhe tenha aberto as portas da docência. A entrega do prémio encerrou dois dias que o Centro de Estudos Ibéricos dedicou à obra de Eduardo Lourenço.

Luis Martins Jerónimo Pizarro considerou Eduardo Lourenço «um mestre»

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