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“O Museu Desaparecido”, Héctor Feliciano

Opinião – Ovo de Colombo

Héctor Feliciano formou-se em História e História da Arte e doutorou-se em Literatura na Universidade de Paris enquanto desempenhava o cargo de director artístico do Departamento de Assuntos Culturais da Câmara de Paris. Trabalhou como correspondente cultural europeu para The Washington Post e Los Angeles Times. Em 1988, enquanto trabalhava num artigo acerca de uma pintura de Murillo que havia sido comprada pelo Museu do Louvre, alguém comentou que 20 por cento da arte saqueada a judeus, coleccionadores de arte e particulares, durante a segunda Guerra Mundial, continuava ainda desaparecida. Apercebeu-se, para sua surpresa, de que ninguém tinha levado a cabo uma pesquisa cuidada e profunda desta questão, sobretudo nunca ninguém tinha sequer abordado as famílias (ou descendentes) em causa, vítimas da espoliação de obras de arte de artistas como Cézanne, Monet, Degas, Picasso, Matisse, Van Gogh ou Rembrandt.

Sabe-se hoje que a ocupação da França pelas forças nazis, entre 1939 e 1944, permitiu a confiscação e apropriação de mais de 100 mil obras destinadas, a maior parte, ao grande museu que Hitler planeara criar na Áustria; algumas passaram a integrar colecções particulares de membros da hierarquia do Reich e outras foram vendidas nos mercados de arte da França e da Suíça.

O livro “O Museu Desaparecido” – A Conspiração Nazi para Roubar as Obras-Primas da Arte Mundial – é o resultado de um longo processo de pesquisa e investigação desenvolvido pelo autor, que incluiu documentos confidenciais entretanto tornado públicos, catálogos de museus, inventários alemães e centenas de entrevistas inéditas, incluindo a descendentes de famílias envolvidas que aceitaram colaborar com o autor. A obra centra-se nas colecções de cinco destas famílias: Rothschild, Rosenberg, Berheim-Jeune, David-Weil e Schloss. Segundo o autor, «calcula-se que continuam ainda a faltar entre 20 mil e 40 mil obras de arte que desapareceram em França desde a altura da guerra. Estas obras encontram-se, principalmente, na Europa e nos Estados unidos e fazem parte desse museu desaparecido e extraviado que dá o seu título a este livro».

Verdadeiro modelo de jornalismo de investigação, este livro despertou fortes polémicas por todo o mundo e despoletou uma série de acções com vista à recuperação e restituição de obras de arte roubadas. As suas pesquisas permitiram já localizar mais de duas mil obras desaparecidas. Muitas das famílias vítimas deste saque começaram a reclamar pinturas valiosas encontradas em museus pelo mundo inteiro e a questão da procedência das obras adquiridas começou a ser um factor a considerar. Casas leiloeiras pararam a venda de obras por eventualmente terem sido vendidas nestas circunstâncias.

De interesse histórico, esta é uma leitura empolgante, cujo argumento faz pensar na trama dos romances de intriga e espionagem e que leva o leitor a querer conhecer um desfecho que ainda estará longe de acontecer.

Cristina Caramujo*

*Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra

**A autora optou por escrever de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

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