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«“O Mundo da Carolina” vai tentar mudar a história de outras crianças»

Cara a Cara – Nuno Pombo

P – O que é que motivou à criação da associação “O Mundo da Carolina”?

R – A motivação partiu de uma infelicidade que nós, como pais, passámos desde o dia em que foi diagnosticado o problema de leucemia à Carolina. Foi talvez a fase mais complicada de toda a nossa vida. Desde a primeira hora que, dentro desta infelicidade, tivemos, pelo menos, a possibilidade de conseguir articular e de abdicar de tudo o que estávamos a fazer para nos dedicarmos inteiramente a acompanhar a Carolina durante os tratamentos. Eram tratamentos periódicos em Coimbra, com idas semanais e a necessidade de permanecer alguns dias lá durante a doença. É uma situação que pensamos que só acontece aos outros, mas às vezes acontece-nos a nós. Já éramos pessoas despertas para estes problemas, pois tínhamos colaborado com o Lions Clube da Covilhã, o Centro Hospitalar da Cova da Beira e a UBI na organização de atividades de recolha de medula óssea, mas obviamente que nunca imaginámos que viríamos a ter de passar por esta infelicidade. Apesar de se inspirar numa situação dramática, esta associação pretende reforçar o que a Carolina foi ao longo da vida. Até mesmo durante a fase em que esteve doente nunca foi uma criança de se lamentar, de retrair os seus sentimentos nem de se revoltar. Antes pelo contrário, nos seus oito anos de vida, a Carolina sempre foi uma criança dinâmica, alegre, feliz, com muita energia e cativante. Na escola era uma menina bastante popular e amiga de toda a gente e quando esteve internada sempre foi otimista e alegre. Prova disso é que durante o período em que esteve doente escreveu histórias e poemas, refugiando-se no que gostava de fazer, a leitura e a escrita. Um dos objetivos desta associação é evidenciar essas caraterísticas nas crianças e incentivar que outras possam ganhar gosto pela leitura e pela escrita.

P – Esta também é uma forma de homenagearem a vossa filha?

R – Sim. Obviamente já não podemos mudar a nossa história, mas sentimo-nos na obrigação de, pelo menos, tentarmos mudar a história e levar sorrisos a outras crianças das mais diversas formas.

P – Dois meses após a sua criação, a página no facebook d’ “O Mundo da Carolina” já atingiu quase os sete mil “likes”. É um motivo de satisfação esta adesão?

R – Obviamente que é. Esta associação foi criada no passado dia 1 de fevereiro e antes da sua oficialização já tínhamos recebido inúmeras mensagens de apoio e de incentivo para que avançássemos com este projeto. Muitos destes sete mil “likes” são de pessoas que nos conhecem ou conheceram a Carolina, mas há uma grande percentagem de pessoas que não conviveram diretamente connosco, nem conheceram de perto a realidade mas que se sentem também sensibilizadas por esta causa. Acreditam que a associação pode ter um papel importante para ajudar outras crianças e isso deixa-nos com uma grande responsabilidade, mas dá-nos também energia e motivação para continuarmos e desenvolvermos atividades.

P – Quais os objetivos que pretendem atingir?

R – Os nossos objetivos são fazer atividades que sejam diferenciadoras em relação a outras associações. Iremos apostar na sensibilização das crianças para o gosto pela leitura, música, atividade desportiva e por práticas saudáveis de vida. Contamos já com a adesão de diversas entidades como o Conservatório Regional de Música da Covilhã, que desde a primeira hora se associou a este projeto e já fez vários concertos solidários durante duas semanas com o objetivo de se angariar material escolar, roupas, brinquedos e donativos. Parte desse material escolar já foi entregue à Associação Acreditar, em Coimbra. Foi também entregue roupa ao Centro Jesus Maria José, no Dominguiso. Realizámos também um concerto solidário no dia 22 de março com o CPT Pinhos Mansos, no Tortosendo, e com a escola de música Rondó, cujo bilhete consistiu na doação de alimentos para crianças que também já foram entregues a associações.

P – Que outro tipo de ações estão programadas para a angariação de fundos?

R – O projeto principal para este ano será o lançamento no dia 1 de junho, Dia Mundial da Criança, de um livro com as histórias e poemas que a Carolina escreveu, cuja receita resultante das vendas irá reverter para entidades que apoiem crianças. O livro será também acompanhado por um CD com músicas tocadas pela orquestra do Conservatório Regional de Música da Covilhã a que a Carolina pertencia e onde tocava violino. Vai ser também uma homenagem que os colegas lhe irão fazer. Esse CD terá também as histórias narradas e já temos a confirmação da voz feminina da jornalista Daniela Santiago. Teremos também o envolvimento de outras pessoas neste projeto que oportunamente iremos divulgar. Como pretendemos entregar a totalidade do preço de capa do livro às instituições, estamos a angariar apoios e ajudas para custear a sua edição. Nesse sentido, já temos o apoio de algumas empresas e temos também apostado em merchandising, nomeadamente com a venda de pin’s, crachás e ainda este mês iremos começar a vender pulseiras. Estamos ainda a organizar, conjuntamente com a Associação Desportiva da Estação, o Conservatório e a AAPACDM da Covilhã, um torneio de futebol sub-13 solidário que terá lugar a 1 de maio e vai envolver quatro equipas do distrito. As receitas da bilheteira vão reverter a favor da AAPACDM. A 17 de maio haverá um espetáculo de patinagem e outro musical, promovido pelo Unidos do Tortosendo, cujas receitas de bilheteira vão reverter para a associação “O mundo da Carolina”. Já no arranque da próxima temporada de futsal de seniores vamos promover um torneio em data a agendar.

P – É vossa intenção apoiar crianças com doenças crónicas e/ou que se encontrem em condição sócio económica desfavorável maioritariamente da região ou não estabelecem qualquer tipo de limites?

R – Infelizmente, os problemas sociais e familiares decorrentes desta crise económica são inúmeros e é uma situação que se verifica em todo o país. Iremos tentar apoiar entidades que lidem diretamente com crianças e que tenham dado provas e evidências de um empenho e envolvimento que seja meritório. Iremos estabelecer mais protocolos e, à medida que a associação for desenvolvendo a sua atividade, iremos alargando este leque de apoios.

Nuno Pombo

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