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«O Mileu não se une com ninguém»

Cara a Cara – Armindo Maia

P – Há motivos para festejar numa altura em que o Mileu assinala 30 anos de existência?

R – Há sempre motivos para festejar e um aniversário é sempre um aniversário. Não é por o clube não estar muito bem financeiramente, como aliás todos os outros, que não se vai festejar. De resto, são 30 anos, uma data importante, que só se faz uma vez e por isso festejámo-la. Convidámos sócios, amigos do clube, atletas e dirigentes. Há sócios que fazem tanto ou mais pelo clube que alguns diretores porque muitos têm ocupação e não podem estar no clube a tempo inteiro. Há sócios que fazem tudo e mais alguma coisa pelo Mileu porque foram eles os fundadores e têm gosto nisto.

P – Qual era a prenda que o clube gostaria de receber neste aniversário?

R – Para ser sincero, a melhor prenda que podia ter recebido era a Câmara dar-nos o dinheiro que ainda nos deve. Desse modo, o clube podia pagar alguns débitos que também tem. Isso era o melhor. Na parte desportiva, gostava de poder ser campeão distrital.

P – Qual é a atual situação financeira do clube?

R – O Mileu passa por algumas dificuldades, como todos os clubes, porque não há dinheiro. A Câmara beneficiava pouco mas agora ainda é pior porque não beneficia nada. Só têm feito promessas e não pagaram o restante que nos deve, que não é tão pouco como isso, ainda são uns milhares largos de euros. Por isso, passamos por dificuldades e temos a equipa que se pôde arranjar, pois, como se costuma dizer, “quem não tem cão, caça com gato”. Temos uns atletas porreiros, que fazem tudo por tudo para ganhar os jogos e não têm ordenado. Damos apenas uma pequena recompensa para ajuda do combustível para irem aos treinos, mas eles jogam com garra e vontade. Se não têm mais vitórias é porque não podem, não é porque não ganham dinheiro. Há 23 anos que estou ligado ao clube e nunca vi uma equipa com mais vontade de trabalhar como a que temos esta época. Antigamente, os jogadores ganhavam 200 ou 300 euros, mas estes não levam quase nada. De vez em quando lá damos um lanche e é assim que temos levado as coisas porque não há motivos para fazer festas se não há dinheiro.

P – Qual é o montante da dívida da Câmara da Guarda nesta altura? Já há acordo de pagamento?

R – A dívida anda na casa dos 30 mil euros. Quanto a acordos, há sempre quando lá vamos pedir dinheiro, só que nunca são cumpridos. Se formos à Câmara falar, dizem-nos que para o mês que vem já se fazem contas, mas a história é sempre a mesma. Se eles não o têm, não o podem dar. Só os condeno numa coisa, se não dá, não se promete porque eu, como presidente do clube, não falho com o pouco que prometo, nem que deixe de comer. Nunca falho. Era isso que a Câmara, Juntas e toda a gente devia fazer. Prometer-se à medida do que se pode pagar. Não pode pagar, não promete. Não vale a pena andar a iludir ninguém.

P – A participação da equipa sénior nos campeonatos distritais de futebol de 11 da próxima época é uma garantia?

R – Sem dúvida nenhuma que sim. Isso é ponto assente. Não estamos com intenções de desistir.

P – Voltar a inscrever a equipa no escalão de juniores é um objetivo?

R – Esse objetivo já o temos há muito tempo. Simplesmente, além de não se pagar ordenado, fica caro porque tem que se ter uma pessoa para ir tomar conta dos miúdos, um carro para os transportar e tudo isso custa dinheiro. É o carro, o combustível, o seguro, é tudo, de maneira que não se pode. No futuro, se houver alguns subsídios que as Câmaras voltem a dar como antigamente, poderemos voltar a ter juniores. Agora, caso contrário não. Não vale a pena estarmos a empenhar-nos.

P – Perante as dificuldades, e tendo em conta que dois clubes da cidade se juntaram no final da última época, o Mileu estaria aberto à possibilidade de se unir com o Guarda Unida Desportiva?

R – O Mileu não se une com ninguém. Pode receber alguém, agora nós não nos vamos unir com o Guarda Unida porque eles não têm nada. Podemos ouvir o Guarda Unida apresentar-nos alguma solução. Mas o Mileu desistir para ficar o Guarda Unida isso nunca vai acontecer, pelo menos enquanto eu e a direção a que presido cá estivermos. O Guarda Unida e o Guarda Desportiva juntaram-se e se ficarmos nós, tudo bem. O contrário não tem jeito nenhum. Que condições tem o Guarda Unida?

P – Ou seja, não admite que o nome do Mileu possa desaparecer?

R – Isso nunca. Antes queria desaparecer eu. O Mileu tem 30 anos, o Guarda Unida se calhar nem 30 meses tem e nós temos instalações próprias. Não é um grande estádio, mas temos um campo jeitoso e é tudo nosso.

P – Quantos sócios tem o clube atualmente? É um número que pretende fazer crescer?

R – O Mileu tem perto de 1.200 sócios, mas pagantes serão apenas metade. É claro que gostava de aumentar esse número. Nem me importava de só ter mil, mas que todos pagassem. Todos os jogos dão prejuízo, temos de pagar cento tal euros para arbitragem, mais cento e tal para a polícia, mais outro tanto para a Associação. São logo mais de 300 euros, a que temos que juntar a cal e outras coisas. Um jogo fica em média na casa dos 400 euros e o clube não faz nem metade de receita. O que vai aguentando o Mileu e não aumentar dívidas é, nós diretores, para cumprirmos com o que prometemos aos jogadores, metermos às vezes dinheiro do nosso bolso. Depois temos outros sócios que são quase os pais do clube, alguns fundadores, que são os verdadeiros heróis do Mileu porque, se falarmos em desistir, opõem-se logo e estão dispostos a fazerem um sacrifício e arranja-se sempre dinheiro para inscrever a equipa.

Armindo Maia

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