Longe vão os tempos em que o mercado municipal era, por excelência, o local de compras dos guardenses. Atualmente, o negócio «está fraco», diz José Figueiredo, florista situado logo à entrada. «Há menos gente a vender na praça e as grandes superfícies ajudam a arruinar os pequenos comerciantes que ainda restam», lamenta. «Mas tenho confiança que hão-de vir tempos melhores, nem todos os dias é verão», ironiza.
Para este comerciante, o mercado «está a sofrer, porque ninguém faz nada por ele. Está feito há quase 30 anos e nunca levou um litro de tinta». Depois da promessa e fracasso do Guarda Mall, José Figueiredo até se mostra contente por a requalificação anunciada não ter avançado porque «era um projeto unicamente com motivações económicas e que ia deixar o mercado ainda pior». Na sua opinião, a «qualidade das instalações» seria «estragada» com a construção do centro comercial, considerando que atualmente o equipamento só precisa de «obras de manutenção, como pintar e restaurar o telhado, porque chove cá dentro». O fraco volume de negócios fica também a dever-se à crise e «ao pouco poder de compra das famílias», conta Manuel Joaquim, que comercializa produtos hortícolas. «Valem-nos os dias tradicionalmente mais fortes, como a quarta-feira e o sábado, mas mesmo nesses dias já não há o volume de clientes de outros tempos. Além de que, numa altura de crise, contar apenas com dois bons dias de negócio é muito pouco», refere.
Para este vendedor, uma forma de inverter este cenário negativo seria através de «uma remodelação» do edifício do mercado municipal. «E já devia ter sido feita há muito tempo. Deveriam ser feitas obras para criar uma nova imagem da praça, com melhores condições. É que, nas atuais, os clientes acabam por se afastar por muito que lutemos e por muito bons que sejam os produtos que aqui se vendem», adianta. Em relação ao Guarda Mall, o comerciante diz-se desiludido: «Tinha muita esperança de que algo iria acontecer aqui, que melhorasse o mercado, mas a verdade é que acabou por ficar tudo na mesma», lamenta. No segundo piso, Maria Bárbara Antunes queixa-se também da pouca clientela. «Há dias em que não passa ninguém», garante, acrescentando que «o mercado está a morrer e, a continuar assim, qualquer dia não há mesmo mercado».
A comerciante considera que o espaço não tem condições e que há «muito frio e correntes de ar», sugerindo que, além da melhoria em termos de conforto, seria necessária redistribuir os vendedores. «Não faz sentido haver tanto espaço lá em baixo e os comerciantes estarem distribuídos por vários pisos. A principal consequência é que muita gente entra e fica lá por baixo, nem se lembra de vir cá acima», declara.
Futuro do mercado municipal em causa
Júlia Sobral afina pelo mesmo tom e dá também conta de um «fraco volume de negócios». «A conjuntura económica não é a mais favorável, mas as pessoas começaram também a deixar de vir porque as grandes superfícies oferecem outras condições, embora nós aqui tenhamos produtos da região, mais genuínos e de maior qualidade», sublinha. Para a comerciante, a Câmara tem «muita culpa» neste estado de coisas, pois «andaram aí com tanta propaganda, que iam fazer obras no mercado, e acabou por ficar tudo na mesma», critica. Júlia Sobral diz ser a favor de obras no edifício, mas contra o Guarda Mall, uma vez que a cidade «não tem capacidade para centros comerciais com essa dimensão e sem perspetivas de liquidez». Recorda que, depois do projeto ter sido inviabilizado, a Câmara reuniu com os vendedores e prometeu-lhes obras no rés-do-chão do edifício de forma a concentrar ali todas as bancas.
«Claro que, estando os comerciantes todos juntos e o edifício de cara lavada, o mercado ficaria mais forte e passaria a vir mais gente à praça», sustenta. Júlia Sobral diz mesmo que, nas condições atuais, «pode estar em causa a sobrevivência do próprio mercado», referindo ter perguntado ao presidente Joaquim Valente «se a Câmara quer acabar com o mercado, porque é a ideia que passam com a atenção que não lhe dedicam». A comerciante afirma que será «muito mau uma capital de distrito ficar sem mercado municipal, não só para a cidade, como também para os pequenos agricultores da região» e avisa que há o risco de isso suceder: «Se o mercado não tem condições e as pessoas não vêm, os comerciantes não vendem e, por sua vez, também podem deixar de vir. Aliás, nota-se que já há muitas bancas vazias e espaços fechados», sinaliza.
Lembrando as quase três décadas de existência do mercado municipal, Júlia Sobral sustenta que «os edifícios precisam de manutenção, mas a Câmara nunca fez aqui uma obra de melhoramento». Mas isso não bastará, na sua opinião também é preciso «concentrar os comerciantes no rés-do-chão, para eliminar os espaços vazios e dar melhor aparência». De resto, essa mudança permitiria ao município aproveitar os pisos superiores para instalar serviços «que também contribuiriam para trazer mais gente ao mercado».
Fábio Gomes