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O mágico

Bilhete Postal

Gostava de lançar-te uns feitiços. Gostava de te transformar num puf e deliciar-me nele a ver cinema junto à lareira. Gostava de ser mágico e converter uns tipos que não gosto em sapos, outros em lagartixas e alguns mais em peixes de aquário bola. “Aquário bola” deforma as imagens que vemos através deles. São gente retorcida e ficavam lá bem. Ser um mágico ao estilo de Merlim podia ser divertido. Criar ilusões, transformar pessoas e lá está, converter um ministro em puf, outro em banco de cozinha e um último virar puré de batata. Ser mágico e trespassar deputados, pendurar governantes e receber pagamento de tudo isso parece melhor que tudo o que já fiz. Um dos “profs” com que embirro virava corista com mau hálito, um vizinho específico virava homem do lixo no turno da noite. Gostava de encomendar umas festas para alegrar infelizes, criar poções de esquecimento para salvar algumas viúvas, converter a água em vinho depois de bebida e emborrachar os seráficos. Se fosse mágico, o mundo seria muito intranquilo e havia pagamentos sem trabalho, havia dinheiro nalguns rios. Colher o necessário nas árvores e empurrar todos para uns dias de nada que fazer. Para acabar com a mentira política fechava todos os jornais e só havia televisão nos cafés. Em casa, nunca! Nas minhas magias há pinturas que se movimentam, há retratos que nos seguem com os olhos, há mesas que se arrumam sós, há roupa que nos massaja e depois se veste. Gostava tanto de o converter num puf e dar-lhe pontapés.

Por: Diogo Cabrita

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