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O Lobo das estirpes

observatório de ornitorrincos

Depois de Eça e Ramalho no século XIX, MEC e Pulido Valente no final do XX, o jornalismo português recebe para o novo milénio um novo fôlego com a chegada de Luís Freitas Lobo. Lobo, por enquanto, fala apenas de futebol. Mas tal como As Farpas marcaram o fim da Monarquia e modernizaram a língua, e Esteves Cardoso e Pulido Valente influenciaram (para já) uma geração de escritores e cronistas, espera-se que a linguagem de Freitas Lobo escorra para todas as áreas do jornalismo e da literatura. Apresento aqui algumas possibilidades da escrita do génio semântico da bola aplicadas a dimensões da realidade como a política, a crítica literária, a escrita erótica ou mesmo a vida quotidiana.

O governo, por Luís Freitas Lobo

“O Primeiro-Ministro gosta de furar pelo espaço central, com jogo apoiado e espaço curto e denota boa capacidade de construção após a recuperação, com o movimento subsequente de pressing sobre a oposição. Utiliza três homens com perfil híbrido para blindar defensivamente as políticas do governo, aprisionando-as no mesmo bloco e condicionando o modelo de jogo. Desta forma, o PS fecha espaços e mantém-se posicional. Há quem acuse o governo de falta de modelo e princípios na equação de compatibilidade, originando um problema táctico-conceptual.”

José Saramago, por Luís Freitas Lobo

“Saramago escreve um exercício métrico com habilidade fina e, quando conecta a máquina criativa, surge no corte. O escritor solicita desmarcações no espaço entre linhas, troca e esconde as personagens na sua estrutura habitual. Com mudança de dinâmica, as posições políticas de Saramago partem-se tacticamente. Os seus passes verticais chamam os extremos a trabalhar para fechar as faixas, mas não consegue uma transição rápida variando de flanco, causando a sensação de uma escrita coesa entre linhas.”

Sexo em grupo, por Luís Freitas Lobo

“Wendy começou por assumir o jogo de trás para a frente, mostrando consistência de transição defesa-ataque no uso do seu bloco médio-baixo. Karl joga de costas para o golo e mostra falta de mecanização. Steve gere ritmos de jogo, mas preso nas variações táctico-posicionais, não consegue desequilibrar no um para um. Will, uma referência na transição defensiva, temporiza e forma um bloco de pressão. Por momentos, Savannah deixa de percepcionar simultaneamente a defesa e o ataque. Selma foge da zona interior, o seu habitat táctico, e com adornos técnicos motiva todo o sector para o combate. Os índices de participação colectiva aumentam e o círculo preferencial de jogo vira-se para os canais de penetração.”

Conversas de amigas, por Luís Freitas Lobo

– Nos hábitos de comportamento íntimo, o Zé queima linhas e é um vértice ofensivo capaz de unir a recuperação com a construção, mas faltam-lhe 15 centímetros para ocupar, com total dimensão das suas capacidades, a elite mundial.

– Tens razão. Já o Kimbo era felino, intuitivo, animal de área, mas também sabia jogar fora dela. Mas, lá está, o Kimbo não era geneticamente português. Era africano.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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