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«O Laboratório do Sono é único no distrito da Guarda»

Cara a Cara – Entrevista

P – Em que consiste o Laboratório de Estudo do Sono?

R – O Laboratório do Sono, integrado no serviço de Pneumologia do Hospital Sousa Martins, realiza exames que detectam os vários distúrbios do sono, como a insónia ou a apneia obstrutiva nocturna (ou seja, falta de ar) e outros problemas. Destina-se ao estudo de doentes com distúrbios do sono, que serão monitorizados para serem alvo de análise. Ou seja, é avaliado tudo o que acontece durante o sono, quer em termos cerebrais, com a eletroencefalografia, como ao nível respiratório, com as paragens ou saturação de oxigénio, por exemplo. Através deste exame são avaliados os vários níveis de sono.

P – Qual a necessidade deste serviço no Hospital Sousa Martins?

R – É essencial não só para o serviço de Pneumologia, como para as restantes especialidades. Há muito tempo que precisávamos deste laboratório. Trata-se uma patologia multidisciplinar, mas é certo que a mais frequente é a apneia do sono, pois estima-se que quatro por cento dos homens e dois por cento das mulheres em Portugal sofrem dela, o que é um número muito significativo. Fora os doentes que estão subdiagnosticados. Além disso há muitas doenças do sono, insónias ou outras alterações que perturbam o sono, pelo que é uma patologia ligada a várias especialidades. Os doentes podem vir do otorrino, da psiquiatria, do internista ou do neurologista, entre outros. Depois, são orientados para uma consulta.

P – Como é que os doentes chegam ao laboratório?

R – Os doentes chegam à Consulta do Sono, que já existe há cerca de um ano no Hospital Sousa Martins, encaminhados por especialistas. Depois é feita uma triagem, até porque não há resposta para tanta procura. Nem todos os doentes precisam de fazer necessariamente este exame. Há outros, como os domiciliários, em que o paciente leva um aparelho para casa. Só nas patologias mais complexas, em que há, de facto, distúrbio do sono e com alterações na sua estrutura, é que se realiza esta monitorização constante e permanente por um técnico. Mas nem todos são candidatos a este exame. Primeiro, os doentes são triados na nossa consulta e depois é decidido qual o estudo mais adequado.

P – Como funciona este exame?

R – Os doentes ficam a dormir numa sala equipada para esse fim e são monitorizados com eléctrodos em várias partes do corpo, o que nos vai permitir identificar os vários tipos de sono ao longo da noite. Assim, os pacientes são vigiados em termos cerebrais e até respiratórios. Para tal, a sala está também equipada com uma câmara.

P – Já há listas de espera?

R – Para a consulta já temos bastantes doentes. E tem sido feito um grande esforço no sentido de diminuir essa lista. Também porque este Laboratório é o único do distrito da Guarda.

P – Quais as consequências destas doenças?

R – Em relação à apneia, a mais frequente, os doentes têm uma má qualidade de sono e terão mais predisposição a doenças cardiovasculares, cerebrovasculares. Por outro lado, devido a essa má qualidade de sono, poderão motivar acidentes de viação ou laborais. Está provado que uma das grandes causas dos acidentes de viação é a sonolência do condutor. Trata-se de patologias simples, mas com consequências muito complicadas. Ainda há pouco diagnostiquei um caso numa senhora que era muito triste e deprimida. Estava sempre com sono, tinha que se deitar a toda a hora e sentia-se muito limitada, mas não sabia que sofria de apneia de sono, pensava só que era diferente das outras pessoas.

P – Que tipo de tratamento é feito após o diagnóstico?

R – Tem várias vertentes, mas deve incluir sempre conselhos gerais de emagrecimento, porque a maioria destas pessoas são obesas, como deve ser recomendado uma dieta e algum exercício físico, entre outros. Depois, dependendo da causa, trata-se a doença. Isto é, se for uma causa neurológica, tem que se tratada por um neurologista. Se for outra, terá que ser pelo respectivo especialista.

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