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O Jurássico Foi Ontem

Comprei o meu primeiro computador em Outubro ou Novembro de 1990. Era um IBM PS1 com um ecrã de dez polegadas (hoje, no mínimo, de dezassete), um disco rígido de 30 Megabytes (hoje 100 gigabytes), um megabyte de memória RAM (hoje mil vezes mais) e dez megahertz de velocidade de relógio (hoje três gigahertz). Uma Máquina. Um portento da tecnologia. Maldita a hora em que o comprei. Foi caro, que custou cerca de quinhentos contos, bloqueava de dez em dez minutos e desmultiplicava-se em caprichos. Tinha periodicamente de lhe formatar o disco por uma razão ou por outra: ou era um vírus, ou então um erro de sistema irrecuperável, ou uma qualquer miséria tecnológica que tinha escolhido aquele preciso momento para desabar com estrondo sobre mim.

Havia, e muito, quem se vangloriasse de nada saber de computadores e ter raiva a quem soubesse. Ainda há, mas já ninguém se ri.

Não havia Internet em Portugal. Começavam a aparecer os aparelhos de fax. Os telemóveis apareceram pouco depois e pesavam cinco quilos. Os executivos insistiam em transportá-los para o restaurante e atendiam as chamadas com grande aparato, fazendo questão de toda a gente na sala se aperceber de que estavam a falar ao telemóvel e divulgando em alta-voz, até ao mínimo detalhe, o assunto da conversa: “sim, encontramo-nos no Solar do *** daqui a meia hora!”.

O betão crescia por todo o lado, descontroladamente, como um cancro. Havia a moda das portas e janelas em alumínio. Ninguém falava com um arquitecto antes de construir a casa. Havia como que um tráfico de projectos de casas que toda a gente utilizava, e por isso todas elas saíam iguais: feias, frias, falsas, de fugir.

Não havia televisão por cabo. Apenas os dois canais da RTP (a SIC e a TVI vieram apenas, respectivamente, em 1992 e 1993). Não tinham ainda aparecido a TSF ou “O Público”. Surgiam pouco a pouco as universidades privadas, e nunca se libertaram de dois terríveis labéus face às públicas: eram piores e mais caras.

A competitividade da economia portuguesa assentava em dois factores: nos baixos salários e numa política monetária que consistia em ir baixando o valor do escudo, de forma a que os produtos portugueses se tornassem mais baratos no mercado internacional. A imagem do país identificava-se com essa política, de que ainda não acabámos de pagar o preço: barato e de baixa qualidade, uma espécie de fornecedor das futuras “lojas dos 300”.

Sugestões:

Um tema de discussão: O fim do petróleo. Está prestes a ser editado em português um livro fundamental sobre o assunto, podendo servir de trabalho de casa para a tertúlia. A premissa da discussão é esta: vai deixar de haver petróleo antes de surgir uma alternativa viável para as necessidades energéticas do planeta. Quais as consequências para a nossa civilização, assente como está na energia barata?

Uma ameaça: Irão. É o quarto maior exportador mundial de petróleo. Vai por isso ser um dos últimos países do mundo a sofrer com o fim do petróleo. Pretende ter centrais nucleares e vai dizendo, ao mesmo tempo, que Israel deveria ser varrido do mapa. Acaba de testar mísseis com um alcance de 4000 quilómetros – o bastante para atingir a Europa, mas ainda longe dos Estados Unidos da América.

Um filme: Broken Flowers (Flores Partidas), de Jim Jarmursch, com o enorme Bill Murray. Um homem já entradote resolve visitar algumas antigas namoradas, numa revisitação do seu passado. A coisa começa bem (acorda na cama com Sharon Stone) mas termina mal (acorda no banco de trás do carro com um olho negro e os gritos de uma ex-namorada a ressoarem-lhe no crâneo). A vida é feita de altos e baixos.

Um site: http://img.tapuz.co.il/forums/8572800.swf (ver apenas uma vez, se os vossos filhos deixarem).

Por: António Ferreira

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